EM DEFESA DAS PESQUISAS ELEITORAIS

Depois de atacarem as vacinas, as urnas eletrônicas, o STF, o TSE e até a esfericidade da Terra, agora chegou a vez das pesquisas eleitorais serem o alvo dos bolsonaristas. Como tudo o que é ciência é odiado por essa gente, nenhuma novidade nesse ataque, que não começou hoje, mas que no dia após a eleição, se tornou virulento. A rádio bolsonarista Jovem Pan não perdeu tempo e já iniciou a campanha anti-pesquisa. Ricardo Barros, o o líder do governo na Câmara, já avisou que apresentará um projeto criminalizando as pesquisas eleitorais que “errarem” suas projeções.

Para os bolsonaristas, as pesquisas eleitorais “erraram”, em razão da diferença apresentada pelas pesquisas entre Lula e Bolsonaro não ter se confirmado nas urnas. Mas onde estaria o “erro”?

A pesquisa Datafolha, por exemplo, indicava que Lula faria 50% dos votos válidos. Lula chegou a 48%, exatamente dentro da margem de erro. Todas as pesquisas apontavam Lula em primeiro lugar e Bolsonaro em segundo. E foi o que aconteceu. Nenhuma pesquisa afirmava que Lula iria ganhar no primeiro turno. E Lula não ganhou no primeiro turno.

Há uma metáfora que diz que a pesquisa é um “retrato”. Por isso, ela expressa o momento. No momento em que o resultado da pesquisa é divulgado, já houve um movimento, evidentemente não captado pelo “retrato”. O crescimento de Bolsonaro, que forçou a ida do pleito ao segundo turno, veio depois da última pesquisa, divulgada no sábado. Análises de especialistas indicam que houve a migração de votos de indecisos que se decidiram no dia ou até na hora do voto. Foram votos de Simone Tebet e Ciro, que migraram para Bolsonaro. Houve um voto útil da direita e até do centro antipetista, que não queriam que a eleição fosse decidida a favor de Lula.

É necessário lembrar que em 2022 não foi realizada nenhuma pesquisa de boca de urna, que certamente poderia captar o processo de migração de votos de última hora. Nesse aspecto, é interessante lembrar a pesquisa de boca de urna realizada no segundo turno de 2018 pelo Ibope, atual Ipec: na ocasião, aquela pesquisa apontava Bolsonaro vencedor com 56% dos votos, contra 44% de Haddad. O resultado oficial foi 55,13% para Bolsonaro e 44,87% para Haddad. Aquela pesquisa foi quase cirúrgica, com a diferença em relação ao resultado oficial sendo inferior a 1%.

Pesquisa eleitoral capta o momento, a intenção, que pode ser mudada até na hora do voto. Entre a intenção e o exercício do voto existe a reflexão, e esta pode levar a um comportamento eleitoral não captado pela pesquisa.

Depois de criminalizarem a História, a Filosofia, a Sociologia, as Artes, agora chegou a vez da Estatística entrar para o “índex” bolsonarista. Seria bom o Bolsonaro anunciar em qual “instituto” ele encomendou a pesquisa que lhe daria vitória no primeiro turno com 60% dos votos, como ele próprio afirmou. Ou será que vai ser decretado um sigilo de 100 anos?

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