
“O meu sistema particular de informações funciona, e o oficial desinforma.” (Jair Bolsonaro, na reunião de 22 de abril de 2020).
A funesta e famigerada reunião ministerial de 22 de abril foi um festival de confissões de crimes: crimes ambientais, crimes contra o Estado Democrático, crimes contra a administração pública, crimes de difamação e até racismo. E uma das confissões foi feita pelo próprio Bolsonaro, quando, insatisfeito pelo fato de não ter informações que não deveria mesmo ter, admitiu, com todas as letras, que tinha o seu sistema “particular” de informações. E mais: disse que o sistema “particular” que possuía funcionava e seria melhor do que o oficial.
Essa história, na verdade, é mais antiga. Gustavo Bebianno, pouco antes de falecer afirmou, em entrevista no programa Roda Viva, que Bolsonaro tinha a intenção de criar uma espécia de “Abin paralela”. Na entrevista, Bebianno afirmou que a sugestão para a criação desse sistema “particular” de informações teria sido do filho de Bolsonaro, Carlos, vulgo “Carluxo”. Bebianno também revelou naquela oportunidade que um delegado da Polícia Federal participaria dessa tal “Abin paralela”. Infelizmente a morte de Bebianno não permitiu que mais detalhes sobre essa tal “Abin paralela” que Bolsonaro pretendia criar viessem à tona.
Mas agora as coisas estão começando a aparecer. Foi revelado que Jair Bolsonaro possui um dossiê com informações de opositores. O arquivo do tal dossiê teria uma lista com os dados de 579 servidores públicos federais, especialmente servidores da área de segurança e professores. O tal dossiê, além de ilegal, é uma medida flagrantemente fascista, com o intuito de perseguir, ameaçar e retaliar servidores que tenham uma postura oposicionista em relação ao governo. Vale lembrar que, pelo que foi divulgado, o tal dossiê é mesmo uma lista de “inimigos”, visto que os 579 integrantes fichados teriam sido identificados como participantes de movimentos antifascistas. Os listados no dossiê estariam sendo monitorados e, evidentemente, tendo suas privacidades e também liberdade, em todos os sentidos, violadas.
A iniciativa de tal absurdo, nitidamente fascista, é de um órgão denominado Secretaria de Operações Integradas (Seopi), subordinada ao Ministério da Justiça. A tal Secretaria é nova na estrutura administrativa e foi criada por Sérgio Moro, sabe-se lá com qual intenção. Porém, sabemos que ela é uma espécie de “inteligência” do Ministério de Justiça. Com a saída de Moro, André Mendonça, seu substituto na pasta da Justiça, deve ser inquirido para explicar o porquê de tal dossiê, cuja existência foi noticiada por Rubens Valente, do site Uol. O objetivo do dossiê é identificar os servidores “antifa”, ou seja, antifascistas. A Seopi, admitindo a existência do relatório, limitou-se a dizer que trata-se de “atividade de rotina”. Já pensaram se isso for mesmo “rotina”? André Mendonça, que comanda o ministério ao qual a Seopi está subordinada, tem a obrigação de prestar os esclarecimentos sobre essa medida, que representa mais um golpe contra a democracia perpetrado pelo governo fascista de Bolsonaro. Vários partidos políticos já protocolaram, na Câmara dos Deputados, pedidos de convocação do ministro André Mendonça para que ele explique esse absurdo. E mais: além do pedido de convocação de André Mendonça para que se explique na Câmara dos Deputados, o Ministério Público Federal, através do procurador Enrico Rodrigues de Freitas, já tomou providências para que o governo justifique a elaboração desse “SNI” particular do Bolsonaro que deve, para o bem da democracia, ser desbaratado, e seus mentores e executores (incluindo Bolsonaro), responsabilizados na forma da lei.
O QUE NOS CAUSA ESPANTO NISSO TUDO É TERMOS UM CONGRESSO NACIONAL INERTE E UM MINISTÉRIO PÚBLICO AJOELHADO. É VERMOS A PF VIRAR PM, O PRESIDENTE SOBREVOANDO O SUPREMO DE HELICÓPTERO SOB APLAUSOS DOS 300 E O POVO ASSISTINDO ESSE FILME NA TV E REDES SOCIAIS, DEITADO, ESPERANDO FALTAR ENERGIA.
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