E DAÍ?

Bolsonaro está infectado com o novo coronavírus. Ontem o próprio Bolsonaro anunciou, pessoal e presencialmente, que o resultado de seu exame havia dado positivo. Poderíamos nos perguntar “E daí?”, não como desdém à doença e às suas vítimas fatais, como fez o próprio Bolsonaro. Nosso “E daí?” também nada tem de desejo de morte ao Presidente, como ele próprio desejou, em 2015, que a ex-Presidente Dilma morresse infartada ou de câncer. O “E dai?” foi uma interrogação que fizemos tão logo soubemos que Bolsonaro havia entrado para a estatística dos infectados. Uma interrogação que expressava nosso total pessimismo em relação às atitudes delinquentes do Presidente diante da tragédia humana que assola o Brasil. “E daí?” foi a nossa primeira expressão de certeza de que Bolsonaro, mesmo depois de vitimado pelo coronavírus, não mudaria seu modo de agir. Quem sabe ele poderia aproveitar a oportunidade de ter contraído a doença para, humildemente e, em um gesto de grandeza que caracteriza todo governante que pode ser chamado de “estadista”, abandonar seus dogmas negacionistas e, finalmente, agir como um líder em torno do combate à doença? López Obrador, Presidente do México (que é de esquerda), pensava do mesmo modo que Bolsonaro. Refletiu e, humildemente, voltou atrás e mudou os seus conceitos, para o bem de seu povo. O mesmo fez o primeiro-ministro da Inglaterra, Boris Jonshon (de extrema-direita como ele), que também chegou a contrair o vírus depois de desdenhá-lo e acabou, posteriormente, pedindo desculpas ao povo por seus erros. Nesse aspecto, palmas para Obrador e Boris Jonshon, independentemente de um ser de esquerda e outro de direita.

Mas seria exigir demais de Bolsonaro uma postura de estadista, coisa que ele jamais será. Como disse Fernando Haddad em sua entrevista ao programa “Roda Viva” na última segunda-feira, “Bolsonaro não consegue sair do modo eleição”. No fundo, ele ainda não assumiu a Presidência da República e continua eternamente “em campanha”.

Chamou atenção o fato de Bolsonaro anunciar em tempo recorde que havia testado positivo. E mais: exibindo o exame com seu verdadeiro nome. Por que Bolsonaro mudaria a postura, visto que, recentemente, recusou-se a exibir o exame (que teria dado negativo) e usando um nome falso? No fundo, essa infecção pelo vírus pode ter “vindo a calhar” para Bolsonaro. Aparentemente, ele foi contagiado de forma mais branda e, com a excelente assistência médica que possui, logo será curado. Por isso, tomou a atitude de exibir um vídeo ridículo e criminoso em que aparece ingerindo a famigerada cloroquina. Tudo para influenciar os seus seguidores e dizer que sua cura foi resultado da droga que ele insiste em fazer propaganda. Mas o vírus também veio a calhar por vários outros motivos: ontem, a notícia do teste positivo de Bolsonaro empanou assuntos que, graças ao vídeo, acabaram esquecidos: o depoimento de Flávio Bolsonaro, acusado de desvio de dinheiro público, foi esquecido. A Saúde e a Educação sem ministros também foram foram esquecidas. E Bolsonaro certamente incluirá, em seu currículo, o fato de ter sobrevivido ao “vírus comunista”, como o classificou o chanceler Ernesto Araújo. Só não sabemos se, dessa vez, assim como foi no episódio da facada, o coronavírus será igualmente chamado de “vírus santo”.

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