
Luiz Philippe de Orléans e Bragança, o príncipe herdeiro de uma monarquia que não mais existe. Ele é deputado federal pelo PSL, bolsonarista “de carteirinha” e chegou a ser cotado para vice-presidente de Bolsonaro. Mas, preterido, acabou sendo eleito deputado federal.
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, plebeu que participou, em 1789, do movimento que tentou a Independência – a Inconfidência Mineira. A tal Inconfidência era um movimento de plutocratas (ricos descontentes com os impostos) e Tiradentes, de origem humilde, acabou “pagando o pato” (o Paulo Skaf não sabe o que é isso!). Os ricos acabaram sendo perdoados ou exilados e todos os que tiveram seus bens confiscados já tinham transferido quase tudo para os “laranjas” da época. Sobrou mesmo foi para o humilde Tiradentes, enforcado a mando dos ancestrais do príncipe-deputado Luiz Philippe. O dia era 21 de abril de 1792 e, por volta das 11 e 20 da manhã, o carrasco Jerônimo Capitânia cumpria o seu doloroso serviço.
Logo depois da Proclamação da República, Tiradentes tornava-se “herói nacional” (a monarquia o considerava um traidor) e, em 1890, o 21 de abril era declarado feriado nacional. A Lei 4897, de 1965, além de reafirmar a data como feriado cívico, também declara Tiradentes como “Patrono da Nação Brasileira”. Ele também é cultuado como patrono das Polícias do Brasil.
O culto a Tiradentes sempre deixou os monarquistas incomodados. E, como representante da família real, o príncipe-deputado Luiz Philippe acaba de apresentar um projeto que propõe que o feriado de Tiradentes seja extinto e, em seu lugar, o feriado passe a ser no dia 22 de abril – o dia do “Descobrimento”.
O príncipe-deputado é apoiador de Bolsonaro. Seria interessante ouvirmos do próprio Bolsonaro e de seus seguidores, dos policiais e dos militares das Forças Armadas a opinião que eles têm sobre a proposta. O próprio Tiradentes também foi militar. Ele era alferes, uma patente equivalente ao posto atual de segundo-tenente.
Tiradentes tem sido vigiado de perto. Se dermos um passeio pela praça que leva o seu nome, no centro do Rio de Janeiro, iremos nos deparar com uma estátua de… D. Pedro I, cuja avó, a rainha D. Maria I, condenou Tiradentes à morte. Ou seja, até na praça em sua homenagem parece que Tiradentes ainda é considerado “perigoso”.
Idealista e até corajoso a ponto de ser inconsequente, o destino de Tiradentes foi selado por delatores. E um deles, Basílio de Brito (menos famoso que Silvério dos Reis), ao se referir ao movimento, dizia: “Só se for um levante de putas!” (além de traidor, preconceituoso e discriminatório).
Agora, o destino de Tiradentes pode ser novamente selado por iniciativa do herdeiro daqueles que o condenaram à morte, com o desaparecimento do feriado em sua homenagem em 21 de abril. E, de onde quer que esteja, o “Patrono da Nação Brasileira” deve estar se perguntando:
“Vai sobrar prá mim de novo?”