
Nunca tinha ouvido falar em Wilson Witzel até 2018, quando, como um mero desconhecido, candidatou-se a governador do Rio de Janeiro pelo PSC. Era para ser apenas mais um candidato figurante, não fosse o apoio dado a ele por Flávio Bolsonaro em plena onda fascista-bolsonarista. Silenciosamente, pelos subterrâneos do WhatsApp, Witzel ia abocanhando os votos bolsonaristas. E acabou sendo eleito, para surpresa dos adversários e dos institutos de pesquisa. Por ser desconhecido e, portanto, alguém “de fora da política”, o discurso do “novo no combate à corrupção”, conjugado à aliança com o bolsonarismo, casava muito bem. O discurso de “apolítico” (na verdade um pseudo-apoliticismo) vindo de quem nunca foi da política e que era um homem da lei (ele era juiz federal) convenceu o outrora progressista e vanguardista eleitorado fluminense.
Mas afinal, quem era esse cara? Sua pinta e discurso de “xerifão” sempre falaram muito mais alto do que a de “homem da lei”. Sem invocar, e até desprezando a lei de quem dizia ser um servo, foi logo jogando a bravata de “dar tiro de fuzil na cabecinha”, para orgasmo dos bolsonaristas. Mas eu passei a desconfiar desse cara quando soube que ele, quando juiz, pediu transferência do Espírito Santo para o Rio de Janeiro. O motivo? Ameaças e intimidações de bandidos, conforme declarou o próprio em uma entrevista publicada em 12 de agosto de 2011 no site G1. Mas, que “xerifão” era aquele que vinha corrido de bandidos para o Rio de Janeiro? Nunca vi “xerifão” correr de bandidos.
E veio a campanha eleitoral. Logo no primeiro debate entre os candidatos a governador, o então candidato e ex-artilheiro Romário, muito bem instruído, teve a oportunidade de perguntar para o Witzel se ele conhecia um tal de Mário Peixoto. Foi o suficiente para transtornar o “xerifão fujão”, que pediu direito de resposta, quando apenas uma simples pergunta lhe havia sido dirigida. Isso porque, àquela altura, já se sabia que Mário Peixoto, o empresário da quadrilha do Sérgio Cabral envolvido em falcatruas, estava por detrás da campanha de Witzel. Claro que Witzel conhecia, e muito, o Mário Peixoto que, aliás, acaba de ser preso.
Ainda em plena campanha de 2018 foi veiculado um vídeo em que o “novo e impoluto” Witzel, quando juiz, ensinava seus colegas de magistratura a driblar a Justiça e com um “truque” ou “engenharia”, não perderem benefícios. Bastava, pelos ensinamentos do “imaculado” Witzel, combinar com o juiz substituto. Ora, quem esse cara pensa que ia enganar?
Agora, com menos de um ano e meio de governo, em plena pandemia, é desbaratada uma verdadeira máfia na Secretaria de Saúde, envolvendo secretário, subsecretário e… Mário Peixoto! Como se não bastasse, o escritório de advocacia da mulher do Witzel também é acusado de receber dinheiro dos mafiosos da saúde. E, para não perder o embalo, a primeira dama ainda tem uma “boquinha” (e que boquinha!) como advogada do partido do governador, recebendo mensalmente a “bagatela” de 22 mil reais. Tudo isso é “o novo” na política do Rio de Janeiro…
Agora, em sessão virtual da ALERJ, o processo de impeachment de Witzel é aceito pelo placar de 69 votos a zero. Foi praticamente uma unanimidade, visto que são 70 os deputados estaduais e apenas um não participou da votação. Ele conseguiu unir petistas, bolsonaristas, tucanos e tudo o que existe na ALERJ. O placar massacrante mostra que a base de apoio de Witzel na ALERJ é nenhuma. Claro que o escândalo da saúde em plena pandemia colocou em baixa a popularidade do “xerifão”. Mas sua base de apoio já tinha sido enfraquecida depois que brigou com Bolsonaro. Bem que Witzel tentou uma reaproximação com o Bozo, para recuperar algum apoio, mas não colou.
Ao que tudo indica, Witzel vai ter que capinar sentado para não perder o cargo. Até porque um outro fator conspira contra ele, além da perda de sua base de apoio e de popularidade: o calendário eleitoral. Muitos deputados estaduais têm interesse nas eleições municipais deste ano e, em uma votação de impeachment de um governador em baixa, claro que eles vão pensar primeiro em seus próprios umbigos. Tudo leva a crer que a faixa de governador de Estado inventada pelo Witzel vai começar o seu processo de revezamento. Isso se seu sucessor quiser usar uma faixa que nunca existiu.