O “laranjal do PSL” parece ir muito além do que podemos imaginar e, assim, como outros crimes, está batendo, sem pedir licença, na porta de Bolsonaro. Depois da indiciação, pela Polícia Federal, e da denúncia feita pelo MP de Minas Gerais, do ministro bolsonarista do Turismo Marcelo Álvaro Antônio pelo seu envolvimento no escândalo das candidaturas laranjas do PSL (aliás o ministro já foi solenemente blindado por Bolsonaro), agora um ex-assessor do ministro, Haissander Souza de Paula afirmou, em depoimento na Polícia Federal, que parte do dinheiro que deveria ser usado nas candidaturas de mulheres, teria sido desviado para abastecer a campanha de Jair Bolsonaro. Haissander foi assessor do atual ministro bolsonarista por ocasião de sua campanha, onde atuou como coordenador, cargo que evidentemente lhe dava acesso a informações importantíssimas referentes aos recursos do partido para a campanha.
Foi mencionada a existência de uma planilha de gastos com a campanha. A planilha era nomeada como “MarceloAlvaro.xlsx” e, nessa planilha, é mencionada a tranferência de recursos para a campanha de Jair Bolsonaro com a denominação “out” o que, para os investigadores, claramente significa “dinheiro por fora”.
Sejamos honestos: não foi o PSL que inventou as candidaturas laranjas, do mesmo modo que não foi o PT que inventou o mensalão. No caso das candidaturas laranjas, as mesmas já existiam, embora nunca admitidas, apenas para cumprir a formalidade da exigência da cota de candidaturas de mulheres. Quando víamos, por exemplo, a divulgação dos resultados finais das eleições, em jornais e em sites, mostrando mulheres com apenas 2 votos, 1 voto ou nenhum voto, isso era a prova cabal de que elas, na realidade, jamais foram mesmo candidatas. Apenas emprestavam seus nomes para cumprir a exigência legal das cotas femininas. A diferença, no entanto, é que não existia financiamento público de campanha e nem a obrigatoriedade de parte dos recursos ser destinada às candidaturas femininas.
No caso do “laranjal do PSL“, a coisa é diferente. Parte dos recursos do fundo eleitoral (dinheiro público) deveria ser destinada às campanhas das mulheres. No entanto, elas recebiam a importância que deveria ser utilizada em suas campanhas e repassavam o dinheiro para onde os caciques do partido, como o atual ministro Marcelo Álvaro Antônio, determinavam. Algumas delas, não aceitando o desvio, denunciaram a prática. E parece que as planilhas estão mostrando para onde ia o dinheiro que deveria abastecer as campanhas das mulheres.
Em outras palavras, as mulheres foram literalmente usadas pelo partido de Bolsonaro. E agora, segundo afirmou o ex-assessor Haissander em seu depoimento, o que deveria ser delas, era mais um “por fora” que Bolsonaro recebia para a sua campanha. Era o crime de “caixa 2”, que para Sérgio Moro é pior do que corrupção. Era o “Elas não” do PSL. Era o “out” para Bolsonaro. Palavra do Haissander.