“NUVEM NEGRA” – A VOZ DA RESISTÊNCIA

nuvem negra

Foi com satisfação que conheci, no Colégio Estadual Prefeito Mendes de Moraes, onde trabalho, na Ilha do Governador, a edição de número 3 do Jornal “Nuvem Negra”, uma publicação de estudantes negros e negras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. O projeto dos estudantes veiculado no jornal tem como objetivo compartilhar com alunos e professores das escolas públicas e privadas a sua cultura, os seus saberes e as suas  histórias. O jornal ressalta ainda a importância da Lei 10.639/2003, que institui o ensino da história e da cultura afro-brasileira em todos os níveis de ensino e que destaca a importância da cultura negra na formação da sociedade brasileira. É necessário lembrar que a Lei 10.639 foi promulgada no primeiro ano do governo Lula.

O jornal é rico em conteúdo, com artigos sobre Afrocentricidade, a luta contra o machismo e o racismo nos currículos acadêmicos, a luta por currículos antirracistas e um forte posicionamento em relação a assuntos recentes, como a prisão de Rafael Braga, com uma ferrenha crítica à estrutura racista que paira tanto sobre o Poder Judiciário Brasileiro como sobre a Polícia Militar.

Quero destacar, dentre as interessantes matérias do jornal, a pesquisa que mostra o perfil racial dos professores da PUC-Rio. Foi através do Jornal “Nuvem Negra” que ficamos sabendo que, dos 1985 professores da PUC-Rio, apenas 86 são negros, o que corresponde a apenas 6% do corpo docente da Universidade. Se a proporção for feita com professoras negras, o perfil mostra que “a PUC-Rio tem 40 vezes mais professores homens brancos do que professoras negras”. Portanto, em se tratando de mulher e negra, a disparidade é ainda muito maior. A pesquisa é descrita em detalhes no jornal, mas os números são assustadores e um convite à reflexão. Claro que tudo tem uma explicação histórica. Os negros que foram arrancados da África e traficados para o Brasil a partir do século XVI eram seres capazes, intelectuais, engenheiros, filósofos, sacerdotes, que acabariam sendo escravizados. A reparação histórica destes cinco séculos de violência contra os africanos, das mais diversas etnias, que para cá vieram compulsoriamente, ainda dá os seus primeiros passos.

Mas a pesquisa feita pelos organizadores do Jornal “Nuvem Negra” sobre o perfil dos professores da PUC-Rio não trará resultados diferentes se for feita, por exemplo, na Magistratura, no Instituto Rio Branco, no Congresso Nacional, na alta oficialidade das Forças Armadas, só para darmos alguns exemplos, embora os negros representem mais da metade de nossa população.

O Jornal “Nuvem Negra” é uma voz de resistência à opressão, à discriminação e um dos símbolos da  luta pela afirmação daqueles que, ao longo de nossa história, deram muito suor e sangue na construção das riquezas de nosso país e que herdaram, na atualidade, miséria, exclusão, discriminação e marginalização, através de um poder branco, elitista, masculino e segregacionista. Que a luta do “Nuvem Negra”  traga a tempestade de justiça que nossos irmãos negros e nossas irmãs negras merecem!

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