
“Simone Tebet e Ciro podem ser decisivos para que haja segundo turno”. (Brasil de Fato, 4 de setembro de 2022).
“Avanço de Ciro e de Simone na pesquisa BTG/FSB ajuda Bolsonaro a forçar segundo turno contra Lula”. (Manchete do portal Seu dinheiro, 12 de setembro de 2022).
Estamos a menos de duas semanas daquela que será, sem nenhum exagero, a mais importante eleição da história do Brasil. Será uma eleição que não terá especificamente um caráter de escolha partidária ou ideológica. O que estará em jogo, no dia 2 de outubro, é o destino da democracia, das instituições, do Estado democrático de direito e das conquistas da Constituição Cidadã de 1988. Será um pleito em que o eleitor terá apenas duas opções: votar no fascismo ou no antifascismo. Essa é uma das certezas sobre a eleição que se aproxima. A outra, que é um alerta e também uma convocação, é que o fascismo está muito próximo de ser derrotado ainda no primeiro turno. Mas, para isso, ainda precisa de votos da esquálida, anêmica, vaidosa e ressentida “terceira via”. Mais do que útil, o voto em Lula já no primeiro turno é imperativo, necessário e, acima de tudo, um compromisso com a democracia.
Felizmente, alguns atores da cena política deixaram de lado vaidades, ressentimentos, divergências partidárias e ideológicas e se renderam à realidade de que só o voto em Lula irá tirar o Brasil do esgoto do fascismo bolsonarista. A recente adesão ecumênica de ex-presidenciáveis à candidatura de Lula mostra que já podemos até nos arriscar em falar de uma “frente ampla”. Afinal, quem poderia imaginar que algum dia Guilherme Boulos e Henrique Meirelles estariam lado a lado, no mesmo evento, apoiando um mesmo candidato? E esse dia aconteceu. Eles estão com Lula. Até mesmo a Marina Silva deixou de lado os seus ressentimentos em relação a 2010 e também já declarou seu apoio a Lula. Mas eles estão, antes e sobretudo, contra o fascismo e a favor da democracia e das instituições.
Diante disso é que nos perguntamos: o que falta ao Ciro e à Simone Tebet para tomarem a mesma atitude? No caso dele, ainda prevalece o ressentimento em relação a não ter recebido o apoio do PT em 2018, quando tiraram Lula da disputa. E, do lado dela, prevalece a vaidade de uma candidatura de vitrine que não decolará, por mais que tenha “turbinas” do fundo eleitoral. E todos sabemos que o ressentimento de Ciro e a vaidade de Simone só trarão como consequência tudo o que, nesse momento, um desesperado Bolsonaro quer: dar mais uma chance ao fascismo em um eventual segundo turno. O período de quase um mês que separa os dois turnos seria um achado para o fascismo. Bolsonaro e suas milícias iriam com certeza, durante esse intervalo, incendiar o país, tumultuar o processo eleitoral, alegar fraudes, amedrontar os incautos, agredir a Justiça Eleitoral, divulgar mentiras escabrosas, enfim, agredir a democracia. O resultado de tudo isso é imprevisto.
Afinal, o que falta a Ciro e a Simone que não faltou em Henrique Meirelles? O que falta a Ciro e a Simone que não faltou em Alckmin? Já está mais do que sabido que um provável governo Lula será uma fase de transição do fascismo para a normalidade democrática e institucional do país. As destruições em doses industriais da saúde, da educação, da cultura, da economia, das relações internacionais, do meio ambiente, da ciência, das universidades públicas, dos direitos humanos e das instituições democráticas perpetradas pelo governo fascista e criminoso de Bolsonaro nem permitem que se faça mais, em um governo de transição para a normalidade, do que devolver ao Brasil sua condição de Estado Democrático e tirá-lo da condição de pária em tudo o que se refere à civilidade.
Ciro, com seu eterno ressentimento, e Simone, com sua vaidade na vitrine política, ainda não tiveram a capacidade e a grandeza de apoiarem o único candidato capaz de derrotar o fascismo e, assim, mesmo não admitindo, estão ajudando Bolsonaro. A começar por Ciro, o terceiro nas pesquisas, que dá mais porradas no primeiro colocado do que no segundo, que seria o seu natural e imediato rival por uma vaga no segundo turno. Felizmente, algumas vozes históricas daquele PDT que um dia já foi de Brizola e que remontam a Jango, já declararam apoio a Lula.
Faltando menos de duas semanas para a eleição, é difícil ter esperanças de que o ressentimento de Ciro e a vaidade de Simone se engajem no único caminho capaz de derrotar o fascismo. Porém, restam os eleitores. Esses, muitas vezes têm mais capacidade do que os próprios candidatos de perceberem aquilo que a cegueira da vingança e da vaidade não percebem. A história mostra que, dentro e fora do Brasil, liberais, socialistas e trabalhistas se uniram em vários momentos para derrotar o fascismo. Até o capitalista liberal Henrique Meirelles já percebeu isso. O que falta então ao ressentido e à vaidosa?