
Bolsonaro, seus seguidores (incluindo a direita de um modo geral) e seus robôs (humanos e virtuais) sempre condenaram o Bolsa Família, o maior programa de transferência de renda já realizado no Brasil, e criado no governo petista. “Vagabundos” era a rotulação dada pelos fascistas (a começar pelo próprio Bolsonaro) e seus agentes ventríloquos aos mais pobres que recebiam o benefício. Era comum ouvir, sempre por parte da direita, mantras de crítica ao programa de transferência de renda como “ao invés de dar o peixe, tem que ensinar a pescar”. Durante os governos petistas, a fatia da população mais pobre que recebia os benefícios sempre foi desqualificada pela turba fascista. Eram “vagabundos” que viviam de benesses do governo. Essa mesma gente, entretanto, enquanto latia contra os mais pobres, sempre se calou sobre as pensões pagas a filhas de militares, cheias de saúde e que nunca trabalharam; nunca abriram o bico para expressar indignação sobre juízes que, mesmo com moradia própria e residindo na cidade em que trabalhavam, recebiam “auxílio-moradia”; nunca levantaram a voz contra “incentivos” para empresários inescrupulosos que sempre pregaram o “Estado mínimo”, mas que sempre mamaram nas polpudas tetas do Estado que eles queriam “mínimo” para nós e sequer pagavam suas dívidas fiscais.
A chamada “PEC Eleitoral”, ou “PEC Kamikase” ou, para nós, “PEC do Desespero Bolsonarista” acaba de ser aprovada e promulgada. Claro que a PEC, de iniciativa do Executivo, é eleitoreira, irresponsável, temerária e até ilegal. Tudo foi atropelado, desde a própria Constituição até a legislação eleitoral. O Brasil encontra-se, pela PEC, em “estado de emergência” e, assim , o Bolsa Família (agora Auxílio Brasil), tem que ser aumentado para 600 reais e atingir mais beneficiários e até os caminhoneiros ganharão uma mesada de 1000 reais. Prá tudo se acabar… não na quarta-feira, mas em um sábado, 31 de dezembro de 2022. Então, acaba a “emergência”, acaba o aumento dos benefícios e escafede-se a mesada dos caminhoneiros.
Sem os votos da esquerda, a PEC não seria aprovada, pois eram necessários 308 votos. Os reflexos da medida no cenário eleitoral ainda são especulativos. Mas uma coisa, porém, é certa: a esquerda manteve-se coerente e votou como sempre votou: a favor dos mais pobres, ao contrário de Bolsonaro e sua camarilha. A esquerda mostrou-se coerente, pois, no governo golpista de Temer, votou contra o teto de gastos (que atingiria exatamente os mais vulneráveis), e sua coerência foi corroborada ao votar a favor da PEC. Claro que a PEC, que retirará mais de 42 bilhões dos cofres, foi uma jogada desesperada de Bolsonaro para tentar mudar o jogo eleitoral. Paralelamente à tentativa de golpe, Bolsonaro tenta recuperar pontos perdidos de bolsonaristas arrependidos e reabilitar-se nas camadas mais pobres. Isso, só as pesquisas dirão. Outra certeza: Bolsonaro tentará se apropriar da medida, mas a esquerda também soube jogar, e não só votando a favor da PEC, mas também propondo o destaque que prolongaria os benefícios para além de 31 de dezembro. Aí, foi torpedeada por Arthur Lira, o cão de guarda de Bolsonaro. E isso, evidentemente, será explorado na campanha. Por que a “emergência” só durará até 31 de dezembro, já que o Brasil voltou ao mapa da fome e apresenta índices de miséria nunca vistos?
Justiça seja feita: o Partido Novo (seria “Partido Nojo”?) também mostrou toda a sua coerência, votando em massa contra a PEC e mostrando que nunca estará a favor dos pobres, seja com emergência ou não. Como um partido ultra-elitista, ultra-direitista e tendo como sua base banqueiros e empresários, o Novo (ou seria Nojo?) manteve sua tradição e coerência de sempre, qualquer que seja a situação, votar contra os pobres, contra os trabalhadores, contra os vulneráveis.
Enfim, as cartas estão lançadas. Depois de um crime chamado “orçamento secreto”, agora vem a “PEC do Desespero”. Isso, sem falar da tentativa de golpe, onde até generais já colocaram suas digitais na tentativa de aventura golpista de um capitão que foi expulso do Exército e que não passa de um sociopata. A esquerda mandou seu recado: não mordeu a isca de Bolsonaro e votou a favor da PEC, mesmo sabendo do risco de que, com sua aprovação, Bolsonaro ganhe alguns pontos. E mais: mostrou que sempre defenderá a causa de beneficiar os mais pobres, visando tirá-los dessa condição. E não apenas até 31 de dezembro.