
Em entrevista concedida à jornalista Fernanda Godoy para a revista Ela, publicada no Globo do último domingo, 20 de março, a atriz e imortal da Academia Brasileira de Letras, Fernanda Montenegro, declarou-se “isentona” nas eleições deste ano. Ao ser questionada se havia mudado de ideia em relação a não mais votar, Fernanda Montenegro respondeu:
“Não vou votar. O mais simbólico desse governo foi o fim da cultura e das artes. Não tem governo radical que não pare a cultura das artes. Mas estamos nas catacumbas, vivos. E não estamos extinguidos.”
Em outro trecho da entrevista, Fernanda Montenegro diz:
“Estamos com esse trágico governo, um presidente que faz como símbolo da sua atividade presencial uma mão, que é uma arma ou o sexo de um homem. É um emblema sórdido.”
Na mesma entrevista, a atriz e imortal critica governos anteriores, mas admite que estes foram mais “simpáticos” e “democráticos”. Porém, insiste em não votar nas eleições de outubro.
Aos 92 anos de idade, Fernanda Montenegro escreve em sua biografia uma página de omissão, que poderá custar caro às futuras gerações. Estamos diante de um governo fascista, miliciano, armamentista e fundamentalista e nunca as artes, a ciência e a cultura foram tão vilipendiadas em nossa história. Até um neonazista chegou a assumir a Secretaria de Cultura de Bolsonaro. Mesmo considerando que o atual governo representou o fim da cultura e das artes e que os governos anteriores foram mais simpáticos e democráticos, Fernanda Montenegro se omitirá em um momento capital da nossa história. É lamentável a isenção da atriz e acadêmica. E Bolsonaro, evidentemente, agradece.
Não sei se Merval Pereira, o visionário da “terceira via” e recentemente empossado presidente da ABL, tem influenciado a digníssima atriz. Mas não há “terceira via”. Só há duas alternativas: o fascismo e o antifascismo. Os “isentões” de 2018 estão sendo cobrados, e alguns deles até pagando o preço da omissão. Os demais também o serão. E, infelizmente, não será diferente com a nobre atriz. A história registrará essa imperdoável atitude de uma atriz que nunca fugiu do jogo, mas que na hora da decisão preferiu a omissão. Mais uma vez Bolsonaro agradece.