
O que dizer sobre a ausência de partidos e grupos de esquerda em uma manifestação convocada por um grupo de direita, o MBL, e que, de quebra, ainda exibia cartazes pedindo “Volta Temer”? O que dizer sobre a ausência da esquerda em uma manifestação que dizia ter como pauta “Fora Bolsonaro” e passa a ser “Nem Bolsonaro, nem Lula” e ainda exibe boneco inflável representando Lula com roupa de presidiário ao lado de Bolsonaro?
O MBL (Movimento Brasil Livre), um dos organizadores das manifestações “anti-Bolsonaro” de ontem, junto com seus penduricalhos como o “Vem Prá Rua” já vivem, há algum tempo, uma fase de ocaso. Usados desde o golpe contra Dilma, eles apoiaram Bolsonaro e são corresponsáveis pela ascensão ao poder do monstro que hoje “governa” o Brasil. Usados contra o PT, eles apoiaram os crimes de Sérgio Moro para alijar Lula da corrida eleitoral em 2018. Agora, vão às ruas contra o monstro que ajudaram a parir.
As esvaziadas manifestações de ontem mostram que a tal “terceira via” ficou ainda mais inviável. Além do MBL, candidatos que são meros traços nos gráficos da pesquisa eleitoral lá estiveram: Dória, Mandetta, Ciro, o Partido Novo… Nem com todos eles juntos as ruas ficaram cheias. Faltou aquele partido daquele candidato que realmente tem votos e é o único capaz de extirpar o câncer fascista que está no poder.
Sabemos o que eles queriam e por isso entendemos o choro de grande parte da mídia que apoiou o golpe de 2016 e em 2018 surfou na onda fascista “contra o PT”. Eles queriam o PT nas manifestações de ontem para que as ruas ficassem cheias e, no dia seguinte, Merval Pereira estampasse em sua coluna a força da “terceira via”. Floparam! De quebra, ainda deram um fôlego para os bolsonaristas recuperarem um pouco da autoestima que haviam perdido depois da carta de rendição escrita por Temer e assinada por Bolsonaro. Claro que, pelas redes, os bolsonaristas não perderem a chance de comparar o público de ontem com a multidão dos malogrados atos golpistas do 7 de Setembro.
O que o MBL, o Vem Prá Rua, o Dória, o Amoedo, o Mandetta e similares querem pode ser traduzido naquela célebre frase: “Vamos fazer algumas mudanças para que tudo continue como está”. Eles são bolsonaristas, não apenas por terem apoiado o Bolsonaro na eleição. Eles apoiam o Escola Sem Partido. Eles defendem a pauta econômica privatista do banqueiro Paulo Guedes para vender o Brasil. Eles votaram a favor da reforma da previdência. Eles apoiaram a reforma que subtraiu direitos trabalhistas. Eles odeiam professores. Eles odeiam artistas. Eles odeiam servidores públicos. Eles odeiam sindicatos e trabalhadores. Eles são sim bolsonaristas, e apenas querem trocar o coturno pelo sapatênis das lojas Riachuelo.