
Hoje, 3 de setembro, o ex-craque Afonsinho completa 74 anos. Afonso Celso Garcia Reis entrou para a história do futebol brasileiro por ter sido o primeiro jogador a obter, na Justiça do Trabalho, o passe livre. Afonsinho foi um dos craques que fez parte do timaço do Olaria de 1971, que chegou em terceiro lugar no campeonato estadual daquele ano. Hoje, em homenagem ao craque Afonsinho, publicamos o capítulo de nosso livro “Olaria – Histórias de um Centenário” dedicado ao Afonsinho. A família olariense saúda o “prezado amigo Afonsinho” e lhe deseja vida longa e muita saúde.
O HERÓI DO PASSE LIVRE QUE JOGOU PELO OLARIA
Início dos anos 70. O Brasil vivia o auge da ditadura militar e o governo dos generais não poupava qualquer instituição que ousasse desobedecer os seus ditames: imprensa, arte, sindicatos, Igreja e até o futebol. Sendo este uma paixão nacional, evidentemente a ditadura logo apropriou-se do esporte para usá-lo como meio de propaganda, fosse na seleção (através da antiga CBD), fosse nos clubes. Foi neste contexto que surgiu um dos maiores gênios do futebol brasileiro, um craque de classe, consciente, engajado e que não submeteu-se aos ditadores das casernas e nem aos seus bajuladores que dirigiam alguns clubes de futebol. Seu nome: Afonso Celso Garcia Reis, mais conhecido como Afonsinho. Além de craque, era um cara contestador, que cultivava barba e cabelo longos, coisa que era considerada um sinal de “subversão” e “comunismo” pelos militares. Então no Botafogo, foi obrigado a fazer a barba e o cabelo para que pudesse treinar e jogar. Claro que ele não obedeceu. Foi então transferido, em 1970, para o nosso Olaria. E começou a sua luta, solitária, na Justiça do Trabalho, pelo passe livre. Chegando à Rua Bariri, foi logo recebido pelo então presidente, nosso Patrono Álvaro da Costa Mello. Assinou um bom contrato e honrou o manto alvi-anil, que na época era listrado com o escudo no peito. Afonsinho entraria para a história olariense não apenas por fazer parte de um dos maiores times que o Olaria já teve (o de 1971). Era um esquadrão que contava ainda com Miguel, Aroldo, Altivo, Alfinete, Roberto Pinto e que ficou em terceiro lugar no estadual daquele ano. Ele também entraria para a história do Olaria por ter sido eleito o melhor jogador de sua posição no campeonato carioca de 1971. Era um meio-campista clássico, de toque refinado e que brincou de jogar bola na memorável campanha do Olaria em 1971. Nessa mesma época ele conciliava o futebol com os estudos. Cursava Medicina na antiga FEFIEG (atual UNIRIO).
Mas Afonsinho lutava pela sua liberdade e de todos os seus companheiros de profissão. Muito antes de uma tal “Lei Zico ou Pelé” (ou de seus escritores fantasmas) falar de passe livre, ele passou um bom tempo lutando pelo seu passe livre, pelo direito de escolher livremente o clube por onde jogar. E, por incrível que possa parecer, ele conseguiu, apesar de estarmos em plena ditadura. Foi o primeiro jogador de futebol da história do Brasil a conseguir o passe livre. E, por isso, ao contrário de muitos de sua época, tornou-se um jogador nômade. Foi fichado no SNI como comunista e subversivo, foi perseguido por cartolas autoritários mas, com certeza, isso não acontecia no Olaria. Sua passagem pelo Olaria foi marcante, dentro e fora de campo, e sua consideração pelo então presidente Mello era muito grande. Sinal disso é que o encontrei, em 1993, no velório de Álvaro da Costa Mello, realizado no Olaria. Afonsinho nunca foi bajulador e sua presença ao velório significa o apreço que tinha pelo seu ex-presidente. Em 1997 tive a honra de homenageá-lo por ocasião dos 50 anos de inauguração do Estádio Mourão Filho, ao entregar-lhe um bonito diploma. Afonsinho foi um lutador, um craque e foi um herói da resistência, dentro e fora dos campos, do qual o Olaria muito se orgulha de ter seu manto sagrado envergado por ele.
P.S.: Dedico a coluna de hoje ao ídolo do Olaria de 1971, o verdadeiro conquistador do passe livre, meu prezado amigo Afonsinho!