
“Na 24ª, o juiz Nélson Carvalhal descobriu quatro cédulas falsas. Beneficiavam os candidatos a deputado federal Jair Bolsonaro (PPR), Álvaro Valle (PL), Vanessa Felipe (PSDB) e Francisco Silva (PP). As cédulas eram feitas de papel mais fino”. (Trecho de matéria do Jornal do Brasil de 17 de novembro de 1994, após as fraudes ocorridas com os votos em papel).
“As caligrafias semelhantes se repetiam de quatro em quatro e de dois em dois votos”. (Luiz Noronha, juiz eleitoral da 25ª Zona Eleitoral do Rio de Janeiro em 1994, em declaração publicada na primeira página do Jornal do Brasil de 17 de novembro de 1994).
As urnas eletrônicas foram introduzidas no Brasil em 1996, como decorrência das grandes fraudes verificadas nas eleições de 1994, as últimas em que o voto foi totalmente no papel. Naquela ocasião, as eleições para deputado estadual e federal no Rio de Janeiro foram anuladas, tamanho o número de votos fraudados, e um novo pleito teve que ser realizado.
Em matéria publicada no Jornal do Brasil, eram publicados os nomes dos deputados que haviam se beneficiado com a fraude no voto de papel e um deles era o então candidato a deputado federal Jair Bolsonaro, então no PPR, um dos oito partidos políticos pelo qual já passou. A matéria dizia que os votos falsificados eram feitos de um papel mais fino. Era uma “fraude no varejo”, como dizia o teor da reportagem. Um voto falsificado aqui, outro ali, e vai-se formando um número substancial de votos fraudados. Além dos votos impressos em papel mais fino, haviam também as fraudes feitas no voto de papel oficial e isso ficou evidente quando eram constatadas caligrafias iguais em vários votos. Foi o que constatou, na época, o juiz eleitoral Luiz Noronha. As modalidades de possíveis fraudes não paravam por aí: havia o preenchimento de votos em branco; havia adulteração dos boletins de urna, o que lembrava a fraude do “bico de pena”, muito comum na República Velha. Levando-se em conta a impossibilidade da presença de fiscais de todos os partidos em todas as seções eleitorais do país, especialmente as localizadas em regiões de difícil acesso, é evidente que a fraude ou “roubo no varejo” sempre teve campo para ser praticada com o voto no papel.
A urna eletrônica acabou com tudo isso. Passou por várias auditorias. E nunca houve qualquer fraude comprovada em seus 25 anos de existência. Bolsonaro e sua família sempre foram eleitos por ela. Seu filho “Dudu Bananinha” foi o deputado federal mais votado do Brasil com o voto eletrônico. Que Bolsonaro sempre teve pretensões golpistas, todos sabemos. Afinal, o que esperar de quem sempre defendeu a ditadura e o AI-5? Agora, ele concentra-se ainda mais em acusar o voto eletrônico de fraudulento, quando ele veio para acabar com a fraude. Embora esse ataque não venha de hoje, a queda de sua popularidade, o crescimento de Lula e as pesquisas que apontam sua derrota ainda no primeiro turno, o levaram ao desespero.
Há algum tempo Bolsonaro vem tramando contra o voto eletrônico. Disse que houve fraude em 2018 porque afirma que teria sido eleito em primeiro turno. Nunca apresentou provas. Diz que houve fraude em 2014 e que o “playboy do pó” teria derrotado Dilma. Também não apresentou provas. Seus séquitos no Congresso tentam aprovar o voto impresso, mas sabe-se que não conseguirão êxito. Então, Bolsonaro ameaça o próprio processo eleitoral e as instituições e, em mais um crime, afirmou recentemente que “ou tem voto impresso ou não tem eleição”. A declaração criminosa de Bolsonaro teve o repúdio do TSE, do Congresso e das instituições que, por sua natureza, defendem a Constituição Federal. Curiosamente, nenhuma nota das Forças Armadas sobre a declaração criminosa de Bolsonaro, que desafiou a lei, a ordem, a Constituição e ameaçou as eleições de 2022 foi emitida.
Lembro que o processo eleitoral de 2018 começou com um crime de Sérgio Moro. Agora, o processo eleitoral começa com um crime de Bolsonaro. As instituições devem ser duras contra o golpismo, porque Bolsonaro e seus comparsas defendem a fraude no varejo para acabarem com a democracia no atacado.