
A nota assinada pelo ministro da Defesa, general Braga Netto, e pelos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, é uma ameaça à democracia e, por isso, merece todo o nosso repúdio. O senador Omar Aziz, presidente da CPI do Genocídio, ao falar em “lado podre” das Forças Armadas, não generalizou. Apenas estava querendo indicar que as Forças Armadas também possuem o seu lado podre, como em qualquer profissão ou atividade. É evidente que também existe o lado podre do Congresso, do Judiciário, do Ministério Público, das Polícias, etc.
Quando vemos militares (inclusive da ativa) metidos em transações nebulosas com vacinas, evidentemente esses militares não representam as Forças Armadas. Quando vemos generais da ativa ameaçando o STF em véspera de julgamento, esses militares não representam as Forças Armadas. Quando vemos um almirante que presidiu a Eletronuclear ser preso, esse almirante não representa as Forças Armadas. Quando vemos um sargento da Aeronáutica traficando cocaína no próprio avião presidencial, esse sargento não representa as Forças Armadas. Quando vemos militares do Exército matarem com 80 tiros um músico e um catador desarmados, então esses militares não representam as Forças Armadas. Militares que atentam contra a democracia, que foram torturadores (como Ustra), que estão envolvidos com milícias, que defendem golpe, que defendem a volta do AI-5 também não representam as Forças Armadas. Todos esses formam sim o lado podre das Forças Armadas.
O senador Omar Aziz, em seu pronunciamento, até exaltou os bons militares, que certamente formam a maioria. O que os comandantes das Forças Armadas não podem é ameaçar uma instituição como o Senado, e nem a CPI. A profissão ou atividade de cada um não faz com que a pessoa seja impoluta e há banda podre em todas as atividades e profissões, inclusive nas Forças Armadas. O Senado Federal e as demais instituições não se devem deixar intimidar pela nota das Forças Armadas. Pena que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, não tomou a atitude que deveria tomar, que seria a de repúdio à nota ameaçadora. Nunca vimos nomes de tantos militares, de altas e baixas patentes, envolvidos ou citados em tantas falcatruas e isso é resultado da “militarização” do governo Bolsonaro, que está totalmente aparelhado. Já passou da hora de os militares voltarem para os quartéis e cumprirem a sua estrita missão constitucional. Portanto, em nome da democracia e dos bons militares, repudiamos completamente as ameaças das Forças Armadas às instituições e ao Estado Democrático de Direito!