
Ontem, quando Eduardo Paes, do DEM, fazia o discurso da vitória após ter massacrado o bispo Crivella nas urnas, Rodrigo Maia, que estava a seu lado, acessou o seu celular, leu uma mensagem e, sem seguida, mostrou-a a Eduardo Paes, que ainda falava. Imediatamente Eduardo Paes interrompeu seu discurso e anunciou a vitória do tucano Bruno Covas em São Paulo. Em seguida, Paes e Maia celebraram e festejaram, ao vivo e na Globo, a vitória do tucano para a prefeitura paulistana. Claro que foi um recado. Um nítido recado da união DEM-PSDB para 2022. Enquanto isso, em São Paulo, João Doria estava ao lado de Bruno Covas no discurso da vitória. Curiosamente Rodrigo Maia, que até pouco tempo pensava em mudar a lei para se reeleger presidente da Câmara do Deputados, mudou o discurso. Agora, ele diz que não quer se reeleger porque a Constituição não permite. Estaria Maia querendo ser vice em uma eventual chapa do Doria? Isso ainda não podemos afirmar, mas após as eleições municipais, ficou claro que o campo da direita não bolsonarista, e que saiu vencedor nas duas maiores cidades do país, já encaminhou muito bem a união. De certa forma, eles já saem na frente para 2022.
E as esquerdas? E o chamado “campo progressista”? Claro que o PT sai com sérios ferimentos das eleições municipais (não elegeu prefeito em nenhuma capital), teve algumas vitórias pontuais, mas ainda foi muito atingido pela cegueira do antipetismo. Mas as esquerdas, como um todo, contabilizaram vitórias políticas importantes, com o PSOL saindo como uma força emergente. Se o campo progressista deixar as rusgas, os ressentimentos e as vaidades de lado, pode surgir uma grande frente progressista. Não falo em frente ampla, pois esta supõe a participação da direita junto com a esquerda. Se, por uma lado, DEM e PSDB já sedimentam uma união, é necessário que o campo progressista se mobilize também nesse sentido.
Bolsonaro, sem dúvida, foi o grande derrotado. Quase todos os candidatos que explicitamente apoiou foram derrotados, alguns até massacrados, como o Crivella no Rio de Janeiro. E Bolsonaro também já mandou o seu recado para 2022 ao, de forma conspiratória, irresponsável e até criminosa, voltar a lançar suspeitas sobre a lisura do voto eletrônico. Isso já é um ensaio para 2022, em caso de derrota. Ele vem vendo o seu campo político se encolher, como ocorreu nas eleições municipais, ao mesmo tempo em que seus aliados aloprados que soltaram fogos no STF, agrediram enfermeiras e propagaram mentiras, calúnias e ameaças pela rede, vão sendo enquadrados pela Justiça. Bolsonaro continua, sem qualquer prova, querendo desqualificar o voto eletrônico e essa conspiração já é o seu pontapé inicial para 2022. Até nisso ele vai querer seguir o derrotado Trump.
Assim, três recados foram dados, tanto pelas urnas como pelos protagonistas da política nacional após as eleições municipais e que já podem ser considerados como uma “largada” para 2022. Primeiro: a direita e centro-direita cresceram e, especialmente DEM e PSDB, já sedimentam uma união. Segundo: O campo progressista mostrou força, apesar de algumas derrotas. Mas ainda é necessário acertar diferenças locais (Pernambuco, por exemplo) e também o PSB tem que dizer, afinal, o que ele é e o que representa. É inadmissível que o candidato do PSB em São Paulo, Márcio França, fora do segundo turno, se declare “neutro” em um pleito que tinha um tucano e um candidato do PSOL como alternativas. O PSB tem que se definir se é aquele partido histórico dos tempos de João Mangabeira e Miguel Arraes ou se vai virar um PSDB. E finalmente Bolsonaro mandou o seu recado: derrotado nas eleições municipais, ele novamente duvidou da urna eletrônica e mandou avisar que não aceitará o resultado em 2022, caso seja derrotado. Infelizmente para Bolsonaro e felizmente para a democracia brasileira, todos os golpes que ele e seus comparsas tentaram dar, foram devidamente tragados. Eles não fecharam o STF e nem o Congresso. O AI-5 não foi reeditado. Não houve intervenção militar. E em 2022 as urnas eletrônicas e seus resultados estarão impávidos.