
Não somos contra uma TV pública transmitir qualquer jogo de futebol ou evento esportivo. Porém, fomos surpreendidos com a transmissão, na última terça-feira, do jogo Brasil X Peru pelas Eliminatórias da Copa de 2022 pela TV Brasil. Tudo deu a demonstração de que houve um uso político da TV pública e que, certamente, a emissora teria sido usada como um trunfo para a guerra entre Bolsonaro e a Globo. A Globo queria transmitir a partida, mas não chegou a um acordo sobre os direitos de transmissão e desistiu.
O início da partida foi às 21 horas, horário de pico da Globo. Evidentemente, a transmissão de um jogo oficial do Brasil por outra emissora traria danos à audiência da emissora dos Marinhos. A coisa fica bem evidente, porque em momento algum a TV Brasil anunciou a transmissão da partida. A iniciativa da TV pública só aconteceu depois da desistência da Globo. A notícia de que a TV Brasil faria a transmissão do jogo foi divulgada pelo site Agência Brasil em notícia levada ao ar às 20 horas e 7 minutos, ou seja, menos de uma hora antes do jogo. A própria CBF só confirmou que a TV Brasil transmitiria o jogo às 19 horas e 50 minutos, em seu site.
Mas outras evidências estavam por vir: a bajulação do narrador da emissora, André Marques, a Jair Bolsonaro, quando mandou “um abraço especial ao Presidente, que estava assistindo ao jogo”. Os cumprimentos do narrador ainda foram estendidos ao secretário de Comunicação de Bolsonaro, Fábio Wajngarten e ainda ao presidente da CBF, Rogério Caboclo. O princípio da impessoalidade no serviço público foi jogado no ralo. Não é de hoje que Bolsonaro vem usando a mesma tática da ditadura militar dos anos 1970, de atrelar a seleção e, quiçá, a CBF, ao governo.
E os direitos de transmissão, quem teria pago? Foi divulgado na imprensa que a CBF pagou. Mas, se a CBF pagou e transmitiu a partida pelo seu site, como foi o acordo para a TV Brasil transmitir? Claro que não houve qualquer transparência.
As Eliminatórias só estão começando e o ano da Copa coincidirá, como sempre, com o ano da eleição para Presidente. O uso da TV pública, seja para fins políticos, seja como arma contra desafetos, é uma improbidade inadmissível. E alguns fatos mostram que a CBF começa a ser aparelhada, em uma situação que faz lembrar a antiga CBD dos anos de chumbo. Para quem dizia, como disse Bolsonaro, que iria fechar ou privatizar a TV Brasil porque dava “traço” de audiência e que ele também chamava de “TV do Lula”, parece que agora os planos são outros. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.