A MAMADEIRA VIROU SUPOSITÓRIO

“Bolsonaro é terrivelmente oportunista.” (Flávio Dino, governador do Maranhão, em 4 de outubro de 2020).

“O governo está enfiando uma piroca no meu c…” (Sara Winter, bolsonarista decepcionada, em 4 de outubro de 2020).

A declaração do governador Flávio Dino feita nesse fim de semana sobre Jair Bolsonaro, pode ser corroborada a partir de tudo aquilo que Bolsonaro era “antes e durante a campanha” e o que se tornou “depois de eleito”. Bem que ele tentou impor e executar uma agenda fascista e autoritária para o país. Ele sempre foi defensor declarado da ditadura.

Bolsonaro preencheu um vácuo político em nome de pautas que acabaram aglutinando diversos setores, desde a a extrema-direita, que ele representa, até a direita liberal. Desde o conservadorismo religioso fundamentalista, passando pelo “combate à corrupção” com a exaltação do lavajatismo até o liberalismo energúmeno de Paulo Guedes, que propõe o fim do Estado. Em nome de uma “nova política”, o “Centrão”, que ele chamava de “o que há de pior na política”, jamais teria vez em seu governo. Mas as contradições não tardariam a chegar e hoje essas contradições já causam insatisfações em suas alas mais fiéis e radicais. Porque o pragmatismo oportunista de Bolsonaro fala mais alto.

O combate à corrupção foi substituído pela fritura e desmoralização de um “troféu” chamado Sérgio Moro, quando este não aceitou a interferência na Polícia Federal. (Em tempo: Moro também não estava lá para combater corrupção nenhuma, apenas para se deixar ser usado em troca da vaga no STF. Depois da Vaza Jato, ele virou pó. Mas, em dado momento, nem os lavajatistas suportavam mais tanta humilhação ao qual o “herói” foi submetido). Ato contínuo, emergiam os escândalos de Queiroz com a família Bolsonaro: desvios de dinheiro público (as famosas “rachadinhas”), funcionários fantasmas, compras de imóveis pelos filhos com dinheirama viva, lavagem de dinheiro com chocolates, depósitos na conta da dona Michelle. Então, o foro privilegiado, que ele dizia ser “coisa de vagabundo”, passou a ser um direito pelo qual seu enrolado filho Flávio recorreu e conseguiu. Mas não era “coisa de vagabundo”?

E o “Centrão”, o bloco partidário que ele disse que jamais teria vez em seu governo, porque representava a velha política? Bolsonaro ajoelhou-se ao “Centrão”, que passou a ocupar cargos no Executivo em troca de apoio (a “nova” política). Depois, o “Centrão” dominou o Legislativo, com Bolsonaro nomeando líderes e vice-líderes do bloco. E agora, até na indicação do STF, o “Centrão” teve voz ativa. No fundo, ao sentir que governar um país sob uma Constituição promulgada não é o mesmo que dar ordens em um quartel, Bolsonaro pediu “misericórdia” ao “Centrão” e eles, “misericordiosos” e ávidos por cargos e de olho nos orçamentos, prometeram que darão (por enquanto) sobrevida a Bolsonaro.

Parece que a vez de Paulo Guedes está chegando. Já há quem diga que a gasolina do “Posto Ipiranga” acabou. Bolsonaro quer, de qualquer maneira, garantir o pagamento do novo Bolsa Família, mais robusto, com fins eleitoreiros. Mas Guedes quer apertar o torniquete e, por isso, já foi até escanteado, ao vivo, de uma entrevista.

Diante de tudo isso, não resta dúvida: o que Bolsonaro quer é salvar seu mandato, reeleger-se em 2022 e safar a sua família enrolada das garras da Justiça. E para isso ele já viu que precisa do Congresso e do Judiciário.

E a mais recente foi a indicação, com as digitais do “Centrão” e beneplácito de Dias Toffoli e Gilmar Mendes, de alguém que não é “terrivelmente evangélico”, descumprindo o que havia prometido às suas hordas alopradas. Malafaia, Olavo e os blogueiros fascistas estão furibundos da vida. E a fascista Sara Winter não fez por menos: “O governo está enfiando uma piroca no meu c…” Para quem tanto falava em “mamadeira de piroca” durante a campanha eleitoral, o titio Freud diria que se a mamadeira já virou supositório, então o desejo já está mais do que realizado. Mas isso é assunto para outra oportunidade.

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