Bolsonaro anunciou a indicação do desembargador Kassio Nunes Marques para ocupar a vaga no STF que será deixada por Celso de Mello. Foi uma “zebra quadriculada”. Um nome que sequer aparecia como azarão. Nem era mencionado. Mas as entranhas de uma possível escolha de Kassio Nunes Marques (nada ainda é definitivo) mostra que o aval do “Centrão”, aliado de Bolsonaro, parece ter sido determinante para essa provável indicação.

Bolsonaro, que adora falar em “casamento”, vem demonstrando que, ao contrário de outros “casamentos” que ruíram (Sérgio Moro, Mandetta, Regina Duarte, Dória, Witzel, Bivar, Gustavo Bebianno, PSL, etc.), o “casamento” com o “Centrão”, que ele já disse ser “o que há de pior” na política, vai de vento em popa. O “Centrão” já está no Executivo, ocupando diversos cargos comissionados nos mais variados escalões. O “Centrão” já ganhou a confiança de Bolsonaro também no Legislativo, com a nomeação de líderes e vice-líderes que fazem parte do famigerado bloco fisiológico (Bia Kicis e Carla Zambelli “dançaram”). E, ao que parece, a metástase do “Centrão” vai tomando conta de Bolsonaro, com a interferência direta do bloco na indicação para ministro do STF.

O anúncio do nome de Kassio Nunes Marques, que é desembargador do TRF-1, teve a participação e o aval de ninguém menos que Ciro Nogueira, o senador piauiense que é um dos grandes ícones do “Centrão”. “Coincidentemente”, Ciro Nogueira é réu no STF. Ciro Nogueira, aliás, foi um dos primeiros a cumprimentar, pelas redes sociais, a indicação daquele que poderá vir a ser o seu próprio julgador. Sabe-se, inclusive, do excelente relacionamento do senador do “Centrão” com o possível indicado ao STF. Isso é a “nova política”… de Jair Bolsonaro.

O que se vê há algum tempo é um Bolsonaro bem mais pragmático, querendo salvar seu mandato, seus filhos enrolados e seus aliados mais próximos. E, para isso, ele já chegou à simples conclusão de que não se pode fechar nem o Congresso e nem o STF. Ao contrário, tem que negociar com o Legislativo e dialogar com o Judiciário (Gilmar Mendes e Dias Toffoli também foram ouvidos e deram aval à provável indicação). Mas não é bem assim que pensam as hordas fascistas que o apoiam.

A reação à possível indicação de Kassio Nunes Marques por partes dos grupos fascistas que apoiam Bolsonaro foi a pior possível. E houve até a ameaça de Bolsonaro perder o apoio dos radicais fundamentalistas de extrema-direita. A reação dos “bolsonaristas raiz” foi a pior possível: “Está muito longe do que buscamos para a vaga. Talvez o presidente @jairbolsonaro não tenha ideia da importância dessa indicação ao Supremo para a sua base de apoio. Para muita gente será um fator determinante para manter o apoio”, disse um influente apoiador radical de Bolsonaro pelo Twitter. O recado, em tom ameaçador, se propagou pelas redes no dia de ontem. Um blogueiro bolsonarista, chamado Paulo Briguet, dono do blog Brasil Sem Medo, de linha olavista, lembrou que Kassio Nunes Marques foi indicado para o TRF-1 pela ex-Presidente Dilma, que ele é “ligado aos socialistas” e que votou favoravelmente a Cesare Battisti. “Assim não dá, presidente@jairbolsonaro!”, concluiu o blogueiro fascista decepcionado. Não demorará muito e Kassio Nunes Marques será o novo “comunista” da praça. Quanto a Kassio Nunes Marques ter sido nomeado por Dilma para o TRF-1, não foi bem assim. Dilma apenas referendou o resultado da lista tríplice que a ela foi encaminhada pela OAB, coisa que Bolsonaro jamais fará, pois é um compromisso democrático, embora não seja uma obrigação constitucional.

Não há dúvida que Bolsonaro terá que administrar esse “rolo”. O anúncio de um nome para o STF com duas semanas de antecedência tem por finalidade, certamente, avaliar a repercussão, pesar os apoios e dimensionar as perdas. De Bolsonaro pode-se esperar tudo. E a indicação ainda não foi consumada. Por enquanto, as hordas fascistas estão latindo de decepção, enquanto o “Centrão” parece estar comemorando mais um gol na “nova política”. Mas, nesse período, o VAR do Bolsonaro ainda pode mudar o resultado desse jogo.