
Em Editorial intitulado “A Justiça contra Moro” e publicado na edição de hoje, a Folha de São Paulo, que já foi grande apoiadora de Sérgio Moro, finalmente reconhece os erros, a parcialidade e o uso político da toga pelo ex-juiz e depois ministro bolsonarista da Justiça, com o intuito de prejudicar a imagem de Lula e do Partido dos Trabalhadores. Para a Folha, Moro ficou com “credibilidade abalada”.
O importante não é o que a Folha revela. A parcialidade de Moro sempre foi evidente e, no ano passado, o The Intercept a escancarou. O importante é que a Folha de São Paulo, um veículo entusiasta da Lava Jato e nitidamente antipetista, agora vem a público, não através de um articulista, mas em seu próprio Editorial, reconhecer os erros, os abusos e a parcialidade política de Moro como juiz, o que é inadmissível. O Editorial começa criticando a liberação da delação do Palocci por Moro sobre doações da Odebrecht para construção do Instituto Lula, a apenas seis dias antes do primeiro turno da eleição de 2018:
“Pouco menos de um mês antes de aceitar o convite para fazer parte do governo Jair Bolsonaro, o então juiz federal Sergio Moro decidiu incluir a delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci nos autos do processo que apura se a empresa Odebrecht doou, em troca de favores, um terreno para a construção do Instituto Lula.
A medida, acompanhada do fim do sigilo sobre o caso, ocorreu a seis dias do primeiro turno do pleito presidencial de 2018, no qual Bolsonaro tinha como principal adversário o candidato do PT, Fernando Haddad —que evocava o apoio e a memória de Luiz Inácio Lula da Silva como trunfos de campanha.”
O Editorial da Folha também lembra que já haviam se passado três meses da homologação do acordo de delação mas, de forma calculada, Moro teria deixado para incluir a delação e, ato contínuo, divulgá-la, às vésperas da eleição. O Editorial chega a questionar Moro pela evidente repercussão política de seu ato ilícito:
“A divulgação do depoimento de Palocci serviria a apoiadores de Bolsonaro como munição contra o rival – à época preso, condenado por corrupção em outro processo.
Natural que se tenham levantado indagações à época sobre a conveniência da atitude de Moro. Não teria o juiz da Lava Jato imaginado que a revelação poderia repercutir na disputa eleitoral?”
Então, diante da evidente parcialidade e uso político por Sérgio Moro da condição de juiz, a 2ª Turma do STF decidiu por anular a delação de Palocci no processo contra Lula. Foi, de fato, a “Justiça contra Moro”, reconhecida por um veículo que muito apoiou Moro e sempre foi antipetista.
Encerrando o seu Editorial, a Folha de São Paulo entende que Morto deve ser punido pela sua atuação política, parcial e criminosa enquanto juiz:
“Se é fato que a Lava Jato prestou serviços inestimáveis ao país, é forçoso reconhecer que cometeu excessos, impropriedades e desvios que cobram seu preço e não podem ser ignorados sob pena de estimular uma índole justiceira que ofende os princípios basilares da Justiça num Estado de Direito.”
Claro que o reconhecimento da Folha de São Paulo é importantíssimo, visto que a Folha sempre foi um jornal lavajatista. Até o Merval Pereira, do Globo, antipetista e ferrenho apoiador do Moro, já havia se resignado em relação à vergonhosa e criminosa parcialidade política de Moro contra Lula em um dos seus últimos artigos.
Resta agora o julgamento, pelo STF, da parcialidade de Moro contra Lula. A eliminação da delação de Palocci de um dos processos é apenas o início. Pelo andar da carruagem, tudo leva a crer que Moro, que recentemente fugiu de um debate com Lula, terá que enfrentá-lo em 2022 em um debate da eleição presidencial. Porque há grande chance de a condenação de Lula ser anulada e ele voltar a tornar-se elegível. Isso, se em 2022 quem não estiver preso pelos crimes que cometeu for o próprio Moro.