
“Justiça aceita denúncia, e Serra vira réu sob acusação de lavagem de dinheiro.” (Folha de São Paulo, em 29 de Julho de 2020).
“Justiça Eleitoral aceita denúncia e Alckmin vira réu por caixa 2, corrupção e lavagem de dinheiro.” (G1, em 30 de julho de 2020).
“Ministério Público pede que Aloysio Nunes devolva 854 mil aos cofres públicos, recebidos da Odebrecht em 2010 em suspeita de caixa 2.” (G1, em 29 de julho de 2020).
Fernando Henrique Cardoso, o colunista bissexto de O Globo, hoje voltou a publicar sua coluna no jornal da família Marinho. Os temas abordados por FHC em sua coluna costumam ter como mote clichês baratos em defesa da “estabilidade democrática” e “combate à corrupção”. Suas colunas sempre abordam, partindo destes temas, os assuntos mais recentes do cenário político brasileiro e ele, invariavelmente, critica o PT pela tragédia que se instalou no poder da República em 2018, embora ele próprio tenha confessado que “lavou as mãos” no segundo turno, mesmo com Bolsonaro prometendo que iria fuzilá-lo. Crítico ferrenho da “corrupção”, esperávamos, pela “moralidade” que sempre defendeu, que FHC abordasse em sua coluna de hoje os escândalos antigos e que tardiamente apareceram, dos quais seus correligionários tucanos José Serra, Geraldo Alckmin e Aloysio Nunes (o vice da chapa do Aécio) são protagonistas. Serra e Alckmin viraram réus na semana que terminou. E Aloysio Nunes é alvo de uma ação cível de ressarcimento proposta pelo Ministério Público. Lavagem de dinheiro, corrupção, caixa 2, tem de tudo. Mas FHC nada mencionou em sua coluna de hoje. Afinal, “corrupção só acontece no PT”, mesmo com o seu PSDB protagonizando as páginas policiais na última semana.
Ao invés de abordar os temas habituais, FHC preferiu homenagear dois grandes mestres, que completariam 100 anos em 2020: Celso Furtado e Florestan Fernandes. Falar desses dos ícones da Economia e da Sociologia é sempre interessante. Mas FHC poderia, também, ainda que em uma nota destacada, comentar sobre os crimes de seus correligionários. Mas preferiu apenas a homenagem, aliás merecida, aos dois grandes mestres.
Será que ele “esqueceu” do Serra, do Alckmin e do Aloysio? A primeira frase de seu artigo é: “O ser humano é dotado de memória”. Mas parece que, nesta coluna de hoje, FHC esqueceu de falar de assuntos importantes sobre a “corrupção” que ele tanto diz combater. Claro, o ser humano é dotado de memória, como ele diz na abertura de seu artigo. Mas em alguns momentos, principalmente quando interessa, a memória também é seletiva.