
Em Editorial publicado na edição de hoje e intitulado “A difícil busca pelo fim da polarização”, o jornal O Globo clama por uma alternativa de candidatura que, em suas palavras, “supere o choque entre os extremos.” Lembrando que falta “um ano e três meses” para a eleição presidencial de 2022 (eles erraram na conta!), o jornal da família Marinho lamenta a tal polarização, e afirma que, no segundo turno de 2018, Bolsonaro teve como adversário Haddad, representante de um “PT em frangalhos”. E, finalmente, apresenta alternativa de candidaturas que, segundo o jornal, devem ser de centro e com um rosto de algum conhecimento popular. E cita, como “alternativas”, João Doria (PSDB), Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, também do PSDB e seu próprio funcionário Luciano Huck. Nossos comentários:
Primeiro, a tal “polarização”. De fato há uma polarização, mas que começou a ser gestada em 2013 e consolidou-se em 2014, quando Aécio Neves, o então candidato da Globo, não aceitou a derrota nas urnas. Mas a polarização começou com o “anti”. Em 2014, Bolsonaro era um obtuso e canhestro deputado federal, do baixíssimo clero, que só aparecia em discursos de ódio, homofóbicos, defendendo ditadura, tortura e torturadores. Era preciso criar o “anti”. Criando-se o “anti” e, demonizando-o, identificando-o como o sinônimo da corrupção, fomentaria-se então o “protagonista da moral e do combate à corrupção”. Em consórcio como o então juiz Moro, a Globo, com seu jornalismo rasteiro, parcial, seletivo e engajado politicamente, trucidava o PT, seu líder Lula e a então Presidente Dilma. Não estamos com isso querendo dizer que não aconteceram erros no PT, mas outros partidos, especialmente o PSDB, eram sistematicamente poupados do jornalismo “investigativo” da Globo que, com seu “microscópio moral” foi capaz de ver até um pedalinho, mas nunca conseguiu enxergar o escândalo do Banestado e todas as demais falcatruas tucanas que, só agora, tardiamente e sem qualquer efeito político, começam a pipocar na mídia. Então, com o “demônio” criado, era só indicar o “Messias”, que não seria, no “cálculo hedônico” da Globo, o “Jair”. Claro que seria um tucano, de preferência. Mas quem acabou ocupando esse espaço foi a extrema-direita, o fascismo bolsonarista, que acabaria crescendo especialmente depois do golpe de 2016, do qual a Globo também foi partícipe. A atuação parcial do jornalismo da Globo acabaria tendo efeito negativo para ela própria. A Globo agiu como aquele “flanelinha”, que guardou a vaga para outro. Finalmente, em 2018, a polarização, que hoje a Globo lamenta, já estava consolidada: dos 13 candidatos a Presidente da República, apenas dois (Bolsonaro e Haddad) fizeram mais de 75% dos votos no primeiro turno. Os demais foram meros figurantes. Mas não esqueçamos que a polarização teve início com a criação do “anti”. E a criação do “anti”, de grande responsabilidade da Globo, foi anterior ao surgimento do “protagonista da moral”.
A outra afirmação do Editorial do Globo chega a ser risível. Diz o jornal da família Marinho que “em 2018 Bolsonaro foi ao segundo turno com um PT em frangalhos”. Frangalhos? Um partido que leva todas as porradas da mídia, sofre um golpe em 2016, tem o seu líder preso e impedido de disputar a eleição e, mesmo assim, lança um candidato faltando 20 dias para o pleito, vai ao segundo turno, faz 47 milhões de votos e ainda a maior bancada na Câmara dos Deputados, é um partido em “frangalhos”? Nessa a família Marinho viajou!
E, finalmente, os candidatos apresentados pelo Globo para superar a polarização criada por eles próprios: Doria, Eduardo Leite e o próprio funcionário deles, Luciano Huck. São de “centro” e são “rostos conhecidos”. Não sei se o Ciro, ou a Marina ou até o cabo Daciolo vão engolir essa. É o neo-tucanato, que a Globo tenta insistentemente emplacar, depois de tentar e ter perdido com Serra, Aécio e Alckmin (esse por duas vezes). Como o proto-tucanato já virou cinzas e hoje protagoniza as páginas policiais, então chegou a hora dos “neos”. Chama atenção a ausência de Moro na lista de “alternativas” do Globo. Em um momento que a Lava-Jato vem sendo encurralada por acusações graves, e no dia seguinte em que ganhou força uma “quarentena” para ex-juízes concorrerem a cargos eletivos, o Globo preferiu, por enquanto, ficar arredio em relação a seu outro candidato. Mas uma coisa parece não mudar na família Marinho: eles são mesmo tucanos de carteirinha!