
“Chefe comendo meu rabo./ Não caiu pagamento. Setembro./Com certeza, caiu sim./ Não fizeram. Pedro acaba de me ligar.” (Trecho de conversa pelo celular entre Marcus Vinícius Azevedo da Silva, sócio da Riomix e o empresário Flávio Chadud, que consta no relatório da Polícia Civil do RJ).
Afinal, quem seria o “chefe” que estaria “comendo o rabo” de um dos interlocutores da conversa acima? E quem seria o “Pedro” que teria ligado para um dos interlocutores reclamando de que o “pagamento não tinha caído”? Para a Polícia Civil do Rio de Janeiro, o suspeito de “ser o chefe” e “estar comendo o rabo” é Pedro Fernandes, secretário estadual de Educação do Rio de Janeiro. O inquérito da Polícia Civil investiga fraudes na Fundação Leão XIII, que esteve sob a administração de Pedro Fernandes quando ele era secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Social. Em 2017, a Fundação Leão XIII passou para a sua gestão, quando foi implementado o programa “Novo Olhar”, com a finalidade de oferecer exame de vista e óculos para os alunos da rede estadual. Os desvios de verbas com o programa ultrapassam os 66 milhões de reais e a Fundação Leão XIII, por indicação de Pedro Fernandes, era presidida por Sérgio Fernandes, ex-deputado estadual.
Um detalhe: Sérgio Fernandes, apesar do sobrenome, não tem parentesco com Pedro Fernandes. Aliás, ele nem tem “Fernandes” no nome. Seu nome é Sérgio Bernardino Duarte, mas adotou na política o sobrenome “Fernandes” para expressar inequivocamente que é aliado de Pedro Fernandes e da vereadora Rosa Fernandes. E, talvez, até para confundir os eleitores com um suposto parentesco. Algo semelhante ao que fez o deputado Hélio Bolsonaro, conhecido como “Hélio Negão”.
De acordo com a Polícia Civil, Pedro Fernandes era um dos que se beneficiava com o dinheiro desviado do programa “Novo Olhar”. Em um dos cadernos apreendidos pela Polícia aparecem as iniciais “PF” (seria “Pedro Fernandes”?), como tendo recebido propinas de licitações da Fundação Leão XIII. O tal “PF” teria recebido um “biscoitinho” de 145 mil. Há até uma menção ao tal “chefe” ou “PF” de que ele era exigente e queria sempre receber em grana viva.
Tudo ainda está na fase de inquérito. Pode ser evidência. Ou pode ser coincidência. Aguardemos o desfecho das investigações para sabermos se o tal “chefe”, de nome “Pedro” e com as iniciais “PF” é mesmo o atual chefe da Educação do Estado do Rio de Janeiro e homem de confiança do enrolado governador Witzel. Se não for, tratar-se-á de uma coincidência digna de entrar na coleção do doutor Samuel Spier, o célebre “colecionador de coincidências” de uma das histórias do matemático Malba Tahan.