
“Esse estrume do Rio de Janeiro…” (Jair Bolsonaro, referindo-se a Wilson Witzel, na famigerada reunião de 22 de abril de 2020).
“Vamos ajudar o Presidente! A política é feita de ajustes.” (Wilson Witzel, em entrevista à Rádio Tupi, em 20 de julho de 2020).
Três meses depois de ter sido chamado de “estrume” por Jair Bolsonaro, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, desesperado, agora virou um puxa-saco do Bolsonaro. Witzel, aquele “xerife” que veio para o Rio de Janeiro fugido de bandidos do Espírito Santo (já viram xerife fugir de bandidos?), que fazia discursos e práticas que causavam orgasmos nos bolsonaristas, como “dar tiro na cabecinha” e embarcar em helicópteros para acompanhar operações policiais, havia caído em desgraça com Bolsonaro e família. Visto por Bolsonaro como “traidor”, quando mostrou pretensões de candidatar-se a Presidente e virando de vez um desafeto de Bolsonaro por causa das investigações da Polícia Civil do Rio contra Flávio Bolsonaro, Witzel entrou no “index” de Bolsonaro, como já tinham entrado muitos outros ex-aliados. Confrontando Bolsonaro, Witzel determinou o isolamento social e fechamento do comércio no combate à pandemia, causando ainda mais ira ao Bozo. Até que foi chamado de “estrume”.
Só que agora a situação de Witzel é desesperadora. O “xerifão encantador de idiotas” está com duas cordas no pescoço. Uma é o processo de impeachment que enfrenta na Assembleia Legislativa. O processo, aberto por unanimidade dos deputados, não foi paralisado como pretendia Witzel, para ganhar tempo, apesar de ter contratado um ótimo e caro advogado (Manoel Peixinho). Mas, como se não bastasse o impeachment, a outra corda no pescoço de Witzel é o escândalo na Saúde do Rio de Janeiro. O roubo milionário da quadrilha da Saúde de seu governo e o envolvimento com empresários criminosos como Mário Peixoto, logo colocaram Witzel no foco e ele é investigado no STJ, suspeito de comandar as fraudes que mataram milhares de pessoas. Ele já foi delatado por seu ex-secretário de Saúde, Edmar Santos, que está preso. De quebra, sua dileta esposa, dona Helena, também está envolvida. Sem apoio na Assembleia Legislativa e mais isolado do que centro-avante de time na retranca, Witzel caiu no desespero e partiu para o “vale-tudo”. Foi noticiado recentemente que o vice-governador, Cláudio Castro, já circula pela Assembleia fazendo negociações para o seu “futuro governo”.
Diante da situação desesperadora, Witzel agora pede arrego ao Bolsonaro. Ontem, em entrevista à Rádio Tupi, Witzel pediu “socorro” aos Bolsonaros, pai e filho. Conclamou a todos a “ajudarem o Presidente”, dizendo que “a política é feita de ajustes.” Eleito na onda fascista-bolsonarista, Witzel lembrou da eleição, onde teve o apoio decisivo de Flávio Bolsonaro e praticamente o mesmo eleitorado de Jair Bolsonaro. Agora, desesperado, parece não se importar de ter sido chamado de bosta de cavalo por Bolsonaro. Vale tudo para salvar o seu mandato e ele precisa do apoio dos partidos e, consequentemente, dos votos dos deputados. E Bolsonaro tem votos na Assembleia.
“Vamos ajudar o presidente!”, disse Witzel. E o que significa “ajudar o Presidente” hoje? É corroborar o seu negacionismo. É negar a gravidade da pandemia. É não usar a máscara. É causar aglomeração. É receitar a cloroquina. É É agredir o meio ambiente. É negar água potável aos índios. É transferir dinheiro do Fundeb para as escolas privadas. É defender a nova CPMF do Guedes. É blindar o Queiroz. É defender o foro privilegiado retroativo para o “Flávio das Rachadinhas”… Se Witzel tiver mesmo aceito o rótulo de “estrume” que lhe foi dado por Bolsonaro, agora só falta o governador do Rio ser usado como “fertilizante”. Tudo é possível. Afinal, “a política é feita de ajustes…”