SELEME, O GLOBO E O PT

Hoje, pelo segundo sábado consecutivo, o jornalista Ascânio Seleme, do jornal O Globo, dedica a maior parte de sua coluna ao PT. No sábado passado Ascânio Seleme já havia reservado a maior parte de sua coluna ao PT. Naquela ocasião, Seleme conclamava a todos para “perdoar o PT pelos seus erros”, visto que o partido já havia sido punido e que não se poderia pensar em um entendimento nacional sem a participação do partido. Seleme defendia a reinclusão do PT no debate político, sem ódios ou ressentimentos. A coluna do sábado passado trouxe imediatas reações, tanto de petistas como de bolsonaristas. Pelo lado PT, falava-se que o partido não tinha motivos para ser perdoado, especialmente em razão do golpe contra Dilma e da prisão de Lula sem provas e por um juiz comprovadamente parcial. Já os bolsonaristas rechaçaram qualquer perdão.

Mas a dúvida que pairou no artigo do sábado passado foi: quem falava era mesmo o jornalista ou aquela coluna seria um Editorial do próprio Globo? O próprio Ascânio Seleme fez questão de afirmar que o seu texto não expressava a opinião do Globo. Seleme enfatizou que não era o porta-voz do jornal. Mas se não era o porta-voz, poderia ser uma caixa de ressonância. Ou um ventríloquo. Porque a família Marinho assinaria tranquilamente aquele texto. “Perdoem o PT!”. Essa conclamação, vinda do veículo midiático que mais massacrou o PT, sucede uma campanha, do mesmo jornal, pela “mea-culpa” petista. Como a “mea-culpa” não veio, então, “perdoemos o PT”.

No artigo de hoje, intitulado “Dois PTs”, que não deixa de ser uma continuação do artigo do sábado passado, resumidamente Seleme fala da existência de duas alas do PT: uma que ele chama de “O PT de Lula“, que não estaria aberto ao entendimento para a formação de uma frente contra Bolsonaro. O “Outro PT”, segundo Seleme, seria o de Haddad: aquele PT que julga que chegou a hora de acabar esse negócio do “nós contra eles”, e que haja um entendimento entre as forças democráticas para que se possa derrotar Bolsonaro. Seria a tal “frente”. Seriam os tais “70%”.

Isto exposto, nossos comentários: em primeiro lugar até hoje a mídia, especialmente O Globo, não fez a sua “mea-culpa” pelo desastre em que o país se encontra. O Globo liderou, principalmente a partir de 2016, uma implacável campanha antipetista, com um jornalismo panfletário onde o PT (que cometeu sim erros) era apresentado como a personificação da corrupção. Ao mesmo tempo, tucanos eram poupados do jornalismo parcial da Globo. Associados ao então juiz Sérgio Moro, O Globo vangloriava-se de dar os “furos” dos maiores absurdos, até mesmo de uma condução coercitiva em que o depoente sequer foi intimado a depor. Essa mesma Organização Globo, que dedicava longos trechos de seu telejornal para denegrir o PT e sempre conclamando para a busca de uma alternativa “contra a corrupção”. Esse mesmo jornal, que falava de “mensalão do PT”, mas quando era para falar do mensalão dos tucanos, usava a expressão “mensalão mineiro”.

Mas não era só na mídia. No Ministério Público e no Judiciário, em associação com grandes conglomerados de mídia como a Globo, enquanto o PT era denunciado, julgado em tempo recorde e condenado, políticos do PSDB, com seus escândalos ocultados, eram sistematicamente preservados da execração midiática e poupados do rigor da lei. Enquanto os processos contra o PT corriam em velocidade surpreendente, qualquer processo contra os tucanos mofava na Justiça. O processo contra Eduardo Azeredo esteve perto da prescrição, depois de quase 20 anos esquecido. Todos os escândalos tucanos eram poupados pela Justiça e blindados por mídias como O Globo. Aécio Neves, apoiado pelo Globo em 2014 e com todas as confissões de seus crimes expostas, foi poupado pelo STF e pelos seus cúmplices do Senado. Paulo Preto? Nem pensar! Serra e Alckmin? “Impolutos” que, com o apoio da Globo, já disputaram a Presidência da República. Todos ficaram anos esquecidos. E o mantra de que “a Justiça é para todos” ia ganhando coro. Só que, nesse consórcio mídia/Moro/Dallagnol/Congresso/FIESP, eles plantaram um “picolé de chuchu” e colheram um Bozo. Tanto fizeram que, em 2018, veio o produto final, que acabou voltando-se contra eles próprios.

No final, o PT não acabou. Ao contrário. Para um partido que foi massacrado pela mídia, teve uma Presidente sofrendo impeachment por não ceder às chantagens do bandido Eduardo Cunha, teve o seu líder preso em um conluio juiz/Ministério Público, sendo que o juiz, que hoje é alvo do que plantou, tornou-se ministro do governo que, graças à sua sentença, tirou Lula da disputa. Para um partido que foi sistematicamente vendido pela mídia como sendo a corrupção em si. Para um partido que sofreu com fake news e teve que lançar, a poucas semanas do pleito, um candidato a Presidente da República e, ainda assim, esse partido chega ao segundo turno, faz 47 milhões de votos, faz a maior bancada na Câmara dos Deputados e hoje é a maior força da oposição ao governo fascista de Bolsonaro, evidentemente não saiu de 2018 como seus algozes pretendiam. Já aqueles que hoje sabem que “erraram na mão” pelas críticas excessivas, desproporcionais e injustas; aqueles que “agora” sabem que Bolsonaro nada representa no combate à corrupção; aqueles que se omitiram no segundo turno em 2018; aqueles que pensavam que Bolsonaro era liberal, mas não é; enfim, aqueles que hoje sentem-se ameaçados por tudo aquilo que eles próprios legitimaram nas urnas, por ação ou omissão, agora concluíram que “está na hora de uma união, de uma frente sem ressentimentos e que se desculpe o PT”. Mas por trás desse aparente gesto nobre e magnânimo do Globo de conclamar que se “desculpe o PT”, veiculado por Ascânio Seleme, existe uma certeza e uma estratégia:

A certeza: Nenhuma frente contra Bolsonaro terá êxito sem a presença do PT. Matematizaram a política e um dos lemas da tal frente é “Somos 70%”. Mas quem é quem nesses 70%? O PT, com certeza, é a força majoritária nesse percentual e muito provavelmente representa mais da metade dessa fatia. Mas qual seria o papel do PT nessa “frente”? Aí vem a estratégia do Globo.

A estratégia: Usar a força política, a liderança do Lula, a representatividade e a militância do PT na tal “frente”. Então, dado o “desgaste petista”, e em nome do entendimento e do interesse nacionais e pela democracia, lançar um nome de “melhor aceitação”. Pode ser o Luciano Huck. Ou quem sabe o Amoêdo ou o Dória? Pode ser até mesmo o Sérgio Moro. Tudo sem ressentimentos. E no final o PT recebe, além das desculpas, os aplausos pela sua “missão patriótica” em favor da democracia…

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