
“Não é o esforço dos homens e dos cientistas que vai fazer com que o mundo melhore, é a ação de Deus.” (Milton Ribeiro, o novo ministro da Educação, pronunciando-se sobre a pandemia).
Milton Ribeiro, pastor da Igreja Presbiteriana, foi anunciado como o novo ministro da Educação. Nenhum problema em termos um ministro da Educação que seja pastor. Como também não haveria problema se o ministro fosse padre, rabino, aiatolá, babalorixá… Ou até se fosse ateu. O que importa é que o ministro não confunda as duas funções e queira, ao invés de ministro, ser um “pastor da Educação”. Mas a Constituição é clara e tanto o Estado como o ensino são laicos. Então, que o ministro nunca se esqueça de que ele é pastor em sua Igreja e que, como ministro, não cabe misturar educação e ensino com religião.
Estamos aguardando há mais de um ano e meio por um ministro da Educação. Porque, na verdade, no governo Bolsonaro o Brasil ainda não teve ministro da Educação. Tivemos sim, até aqui, dois energúmenos neofascistas e um meteoro com currículo falsificado. Não nos iludimos. Claro que, em se tratando do governo Bolsonaro, o ministro teria que ser um cara conservador, de direita e, ao que parece, liberal. Mas que ele seja tudo isso sendo ministro, e não pastor.
Milton Ribeiro tem muitos desafios. Até porque, o que não ficou parado na Educação, foi destruído por seus antecessores, especialmente pelo Weintraub. Algumas declarações polêmicas dadas por Milton Ribeiro já foram pinçadas e fazem parecer que ele tem um viés fundamentalista. Sobre a pandemia, o novo ministro desprezou os homens e os cientistas e disse que “só a ação de Deus irá melhorar o mundo”. Ele pode muito bem falar isso dentro de sua Igreja, porém, jamais dentro de uma universidade federal, entre pesquisadores e cientistas.
Em meio à tragédia sanitária que o país vive, a Educação agoniza e, nesse momento, dialogar (verbo que não existe no dicionário bolsonarista) seria o caminho recomendado ao doutor e professor (pastor é na Igreja) Milton Ribeiro. A retomada das aulas pós-pandemia, as provas do ENEM, a situação das universidades públicas, o novo Fundeb são apenas algumas das grandes questões urgentes da Educação que o novo ministro terá pela frente. Se conseguir abrir um canal de diálogo com a comunidade educacional já será um grande avanço. Se não levar o fundamentalismo para dentro do ministério seria outro grande avanço. Se não odiar universidades, cientistas, professores e estudantes também seria um grande avanço. Grandes avanços? Sim, porque no governo Bolsonaro, em se tratando de Educação, qualquer milímetro já pode ser considerado um salto gigantesco. O primeiro deles? Que o pastor seja ministro!