
Não chega a ser incoerente a proposta de Renato Feder, um dos cotados para assumir o Ministério da Educação, de privatizar todo o ensino e acabar com o MEC. Feder, empresário da Educação e outros “negócios”, já propôs isso. Em se tratando de um governo em que apoiadores, inclusive deputados federais, participam de manifestações pelo fechamento do Congresso e do STF, não pode ser surpresa a vinda, para a Educação, de um ministro que um dia já falou em acabar com o próprio Ministério da Educação. E, em se tratando de um governo que acabou com os Ministérios do Trabalho e da Cultura, acabar com o da Educação certamente faria parte do combo de devastação. Feder é daqueles que chamam o Estado de “elefante”, mas que estão sempre querendo fechar contratos para ganhar dinheiro do “elefante”. Em seu livro “Carregando o Elefante”, ele diz, sem eufemismos, qual o seu projeto para a Educação:
“Após uma fase de cobrança de mensalidades, deve-se partir para a completa privatização do ensino superior e, em seguida, fazer o mesmo com o ensino fundamental, com os cursos técnicos e com a pré-escola. Todos esses ciclos devem ser adaptados ao sistema de vouchers.”
Não, não estamos tendo nenhuma alucinação visual. O disparate que acabamos de ler foi escrito por alguém que está cotado para ser o ministro da Educação do Brasil e encontra-se na página 116 do seu livro “Carregando o Elefante”. Na verdade, o que o Feder quer mesmo, como empresário, é “pilotar” o tal elefante. Ele quer ser o “jóquei do elefante”. Seu físico até permite.
Mas Renato Feder tem problemas e, por isso, ainda não foi oficializado. Primeiro é a resistência da fanática ala olavista, que se julga “dona” do Ministério. Olavo de Carvalho foi até parcimonioso em sua verborragia, ao mandar uma indireta para o Renato Feder, chamando-o de “empresário metido a gênio”. Mas, além da ala olavista, a ala evangélica, não em nome de “Deus”, mas em nome do orçamento de mais de 100 bilhões anuais, também quer barrar a indicação do empresário. A bancada evangélica apoiadora do Bozo (e chantagista) está ameaçando com a retirada do apoio, caso a nomeação de Feder se confirme. Enquanto isso o “Centrão”, novo aliado do Bolsonaro em sua “nova política”, asiste a tudo apreensivo, visto que Feder tem o apoio do bloco das siglas prostitutas para quem Bolsonaro já se arreganhou.
Mas os problemas do empresário que quer ser ministro da Educação para privatizar a educação não param por aí. Não sei se o “currículo” dele pode trazer algum empecilho, mas talvez as “tenebrosas transações” sim. Feder é sócio da empresa Multilaser, que tem contrato com o próprio Ministério da Educação. Como alguém pode ser ministro de um Ministério com o qual faz negócios? Mas há um outro problema. Na Secretaria de Educação do Paraná, Feder fez contrato, sem licitação, com uma emissora afiliada da TV Record para a transmissão de teleaulas durante a pandemia. Uma reportagem do The Intercept mostrou que o sinal da RIC (Rede Independência de Comunicação), a afiliada em questão, não chega em 165 cidades do Paraná, o que deixou milhares de alunos sem acesso às aulas.
Enquanto isso, Bolsonaro vai assistindo às reações, denúncias e à exposição do “currículo” do indicado. Parece que dessa vez ele não será tão célere em confirmar e nomear o novo ministro. As vísceras do Feder já estão expostas e ele pode, de novo, ser o “quase”. Enquanto Bozo avalia as reações e os olavistas vão “secando” e linchando o empresário que um dia falou que queria acabar com o MEC e hoje quer ser ministro, a Educação brasileira agoniza sob seus algozes neofascistas.