
O substituto do predador Abraham Weintraub no Ministério da Educação começou mal porque começou mentindo. Em seu currículo, Carlos Alberto Decotelli afirmava ser “doutor” pela Universidade Nacional de Rosário, na Argentina. Foi desmentido pelo próprio reitor da instituição, que confirmou que Decotelli cursou as disciplinas e cumpriu os créditos, mas não teve tese aprovada e, assim, não lhe foi outorgado o título de doutor. Com o desmentido, consequentemente ele também não tem o “pós-doutorado” na Alemanha, porque apenas doutores podem ter a titulação de “pós-doutor”. O mesmo reitor da Universidade de Rosário disse que sua tese foi rejeitada, sem nenhum parecer favorável.
Depois de ser “pego na mentira”, Decotelli já retificou o seu currículo. Melhor assim. Se bem que ainda há outra acusação sobre as “pedaladas acadêmicas” do substituto de Weintraub. Ele é acusado de plágio em sua dissertação de mestrado. Thomas Conti, professor do Insper, acusou Decotelli de ter copiado trechos de um relatório da Comissão de Valores Mobiliários. Evidentemente essa acusação já está sendo checada e esperamos que o ministro Decotelli esclareça e a verdade venha à tona.
Mas a grande explicação que o país exige do agora ministro Carlos Alberto Decotelli não é sobre se ele é mestre, doutor, pós-doutor ou se copiou textos de outrem em sua dissertação. Perto de outra explicação que Decotelli deve à sociedade, aquelas até que são “fichinhas”. Refiro-me ao Edital de número 13 do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), publicado em 2019. Decotelli presidia o FNDE antes de assumir o comando do Ministério da Educação e, portanto, ele foi o grande responsável por esse Edital. E o que esse Edital estabelecia? Tratava-se da licitação para a compra de 1 milhão e 300 mil computadores que seriam destinados às escolas públicas. Tudo custando a “bagatela” de 3 bilhões de reais. Repetindo: 3 bilhões de reais. O problema a ser explicado é o porquê de Decotelli ter deixado a presidência do FNDE logo depois que a CGU (Controladoria-Geral da União) apontou a existência de “muitos caroços nesse angu”.
As contas eram nababescas e até fictícias para um país marcado pela exclusão digital: 355 escolas iriam ganhar mais de um computador por aluno. Uma média excelente, em se tratando da realidade brasileira. Mas o que soou como um retumbante “caroço no angu” foi o caso da Escola Municipal Laura de Queiroz, localizada em Itabirito, Minas Gerais. A escola, que tem apenas 255 alunos, seria contemplada com 30.030 laptops. Isso dá uma média de 117,76 laptops por aluno. A auditoria feita pela Controladoria foi clara e enfática, e diz que houve a estimativa de “um número maior do que o necessário de computadores a serem adquiridos, usando critérios falhos e sem base técnica.”
O nome da escola é “Laura de Queiroz”. Como se não bastasse a incrível coincidência do nome “Queiroz” na escola, tudo leva a crer que ela foi o grande exemplo da maracutaia que estava prestes a se consumar. Isso porque o Edital acabou sendo revogado e está sendo refeito.
Os estranhos números do Edital que foi cancelado surgiram sob a gestão de Carlos Alberto Decotelli na presidência do FNDE. Para um governo que sempre se arvorou de representar “o fim da mamata”, o senhor Decotelli deve uma explicação ao povo brasileiro: como uma escola com 255 alunos receberia mais de 30 mil laptops? Explica aí, senhor ministro. E, logo de saída, esteja certo de uma coisa: para dar essa explicação nem é preciso ter mestrado, doutorado ou pós-doutorado.