
Fernando Henrique Cardoso, o cardeal do PSDB. Ele e seu partido têm grande responsabilidade pela ascensão do fascismo no Brasil. O fascismo de Bolsonaro cresceu, ganhou espaço e já é uma ameaça real à resistente democracia brasileira. Surgiu a “frente ampla” em defesa da democracia e contra o fascismo. Nós apoiamos. Aqueles que nos acompanham sabem que sempre defendemos uma frente ampla contra o fascismo. Alguns assinaram o manifesto. Outros (como Lula) não. E ainda outros (como Moro), quiseram assinar mas foram barrados. Então, vão dizer que Moro é antifascista e Lula é traidor? Ora, Moro querer assinar um manifesto contra o fascismo (que graças a ele chegou ao poder e onde ele comeu os farelos até bem pouco tempo) é o mesmo que o Aécio querer assinar um manifesto pelo fim do tráfico de cocaína. Mas, falemos de FHC.
Ontem, na Globonews, enquanto as manifestações antifascistas pipocavam em várias partes do Brasil, FHC, junto com Ciro Gomes e Marina Silva, participavam de uma entrevista com a jornalista Miriam Leitão. FHC mandou o seu recado em defesa da democracia, dizendo que é preciso que se deixe de lado os conflitos do passado. Tudo pela democracia. Um claro recado ao Lula. Mas FHC e seu partido não pensaram assim em 2018, quando haviam dois nítidos e insofismáveis projetos em jogo: um projeto autoritário e fascista, representado por Bolsonaro, e outro popular e democrático, representado por Haddad. Bolsonaro jamais enganou a ninguém: defendeu a tortura e exaltou um torturador; disse ser favorável à ditadura; agrediu negros, índios e mulheres; já havia proposto fechar o Congresso; defendia a censura; sempre expeliu ódio pela arte, ciência e educação; negava qualquer compromisso com o meio ambiente; exaltava a ditadura militar. Ele até chegou a dizer certa vez que, se no poder, iria “fuzilar FHC”. Do outro lado, Haddad e o PT, também com seus erros, é verdade, mas sem nenhuma ameaça, sequer velada, às instituições democráticas. E qual foi, na ocasião, o lado tomado por FHC e seu partido? Eles decidiram que ficariam “neutros”. O ódio e o ressentimento devem valer, para FHC, mais do que sua própria vida, pois ele se recusou a ficar contra o candidato que prometeu fuzilá-lo.
Mas será que o PSDB foi mesmo “neutro”? O PSDB de FHC deu uma enxurrada de votos para o Bolsonaro. O apoio de tucanos como João Doria, Antonio Anastasia e Eduardo Leite tiveram pesos decisivos para a vitória do fascismo. O próprio FHC, com sua suposta “neutralidade”, saiu de campo. Agora, como disse ontem na Globonews, ele diz que é hora de juntar forças entre diferentes grupos políticos que podem ter distintas visões sobre muitas questões. Concordo. Mas, por que ele não pensou assim em 2018? Certamente, se ele e seu partido tivessem essa visão em 2018, o Brasil hoje não estaria passando pelo pesadelo fascista. Assim, FHC não tem qualquer lastro moral para criticar quem se recuse a aderir à frente por causa de “certas companhias”. Mas isso não começou em 2018. FHC e seu partido embarcaram na aventura golpista de 2016 e acabaram formando o governo Temer-PSDB. Escândalos de corrupção em série, filmados, gravados e fotografados para quem quisesse ver e ouvir. “Tem que manter isso…”Grande acordo com o Supremo e tudo…” “Mala com 500 mil…” “Tem que matar antes que delate…” E lá estava o PSDB de FHC no “combate à corrupção”.
Portanto, FHC não tem a mínima condição moral de criticar Lula pela sua postura (que, diga-se de passagem, consideramos equivocada). A diferença é que em 2018 nós votamos contra o fascismo e não escolhemos a zona de conforto de uma pseudo-neutralidade que todos sabiam a quem iria favorecer. Se alguém que apoiou o Haddad no segundo turno de 2018 quiser criticar a postura de Lula, esta crítica terá lastro e fundamento. Já quem se omitiu em 2018, chegar agora e mandar recado pela Globonews fica muito fácil. Na entrevista de ontem, alguém do PT poderia (e deveria) ter sido convidado. Até para explicar a postura do partido. Mas, por razões óbvias, isso não aconteceu, já que certamente iria respingar em Moro e seu “aliado” FHC (como assim o chamou o próprio ex-juiz). Como Moro, de forma oportunista, quis assinar os manifestos pela democracia mas foi rejeitado, é bem capaz de, em breve, a Globonews, dizer que “enquanto Moro foi favorável à democracia, Lula preferiu ficar de fora”. E, claro, com o apoio de FHC, a quem o ex-juiz disse não querer melindrar, por ser um aliado.
Estranhamente, a Globonews não convidou ninguém para o “contraditório” (que certamente deveria ser um representante do PT), quebrando assim o que tem sido a regra de suas entrevistas e debates políticos dominicais. Ontem, os três convidados estiveram por todo tempo alinhados. Mas, fica a pergunta: por que o FHC de 2018 não foi o mesmo FHC de 2020?
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