SOBRE O VÍDEO: NÃO PERCAMOS O FOCO!

Enfim, o vídeo da fatídica reunião de 22 de abril foi divulgado pelo ministro do STF Celso de Mello. Alguma novidade? Não. Bolsonaro, um Presidente da República transtornado e desequilibrado desfila seu ódio e seu discurso violento com direito a um repertório de palavrões. Engana-se quem pensa que Bolsonaro perderá seguidores com as falas divulgadas. O vídeo é, de fato, estarrecedor, mas a boiada fascista mugiu de alegria e gozos venéreos ao ver seu líder falar em “querer a população armada”. Ou quando Bolsonaro chamou o Dória de “bosta” e o Witzel de “estrume”. Também sobrou para o prefeito de Manaus, também xingado de “bosta”. E também quando Bolsonaro atacou veículos de imprensa como a
Folha e O Globo. Sobrou até para o site direitista-morista O Antagonista. Nada disso é muito diferente do que ele diariamente faz.

Em relação às falas comprometedoras e criminosas de seus ministros, também nada nos surpreende. Weintraub dizer que “tem que prender esses vagabundos, a começar pelo STF” e Damares dizer que “tem que prender governadores e prefeitos” e que “o Ministério da Saúde está cheio de feministas” ? Nenhuma surpresa! A pergunta é: em todas essas falas, e poderíamos citar várias outras, onde está a surpresa e a novidade, em se tratando de Bolsonaro e seus ministros? E alguém pode ficar admirado com a fala criminosa de Ricardo Salles, que sugeriu aproveitar o foco da imprensa na Covid-19 para “passar a boiada e simplificar normas de baciada, aprovando reformas infralegais”? O que não podemos é perder o foco e, se todas as falas deploráveis serão aplaudidas pela claque fascista-bolsonarista uma coisa, no entanto, não podemos deixar de levar em conta. E essa coisa chama-se foco. O foco deve ser no motivo que levou à divulgação do vídeo. E o motivo é uma acusação seríssima feita por Sérgio Moro: a de que Bolsonaro estava querendo interferir na Polícia Federal, querendo trocar chefes, superintendentes e obter informações. Outras utilidades o vídeo poderá (e deverá) ter, como processar Weintraub, que chamou os ministros do STF de vagabundos e que teria que prendê-los. Pode também sobrar para a Damares. Mas não podemos, nesse momento, perder o foco, que é a comprovação do crime de responsabilidade de Bolsonaro em querer interferir na Polícia Federal. E o vídeo fornece provas disso em vários momentos. E isso é o que deve interessar fundamentalmente.

Quando Bolsonaro diz, aos berros: “Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final!”, não é preciso fazer grandes contorcionismos hermenêuticos para perceber que ele está sim falando que vai interferir, que quer o controle e que está mandando um recado direto para Moro.

Quando Bolsonaro diz, aos berros: “eu tenho a inteligência das Forças Armadas que não tenho informações. ABIN tem os seus problemas, tenho algumas informações. Só não tenho mais porque tá faltando, realmente, temos problemas, pô. Aparelhamento, etc. Mas a gente não pode viver sem informações,” também não é preciso nenhum exercício hermenêutico para percebermos que ele quer informações de órgãos de Estado e não devem atuar como órgãos ou polícias de governo. Mas ele acrescenta:

Sistema de informações. O meu, particular, funciona.” Nessa fala, inclusive, dá para fazer um “link” com a entrevista que Gustavo Bebianno deu, poucos dias antes de falecer, no programa “Roda Viva”, quando ele disse que Bolsonaro estaria criando uma “ABIN paralela”.

Enfim, quando Bolsonaro diz, ainda aos berros, que “a PF não lhe dá informações”, as iniciais “PF” não se referem, evidentemente, a “prato feito”, “pato feio”, “por favor” ou, para usar um linguajar bolsonarista, “puta foda”.

Portanto, o vídeo é sim uma prova contundente dos crimes de Bolsonaro. E isso é o que deve primordialmente interessar. Há um detalhe no vídeo que chama atenção: Sérgio Moro praticamente não fala, percebeu que foi ameaçado e que já estava frito. Em dado momento, ele levanta-se e sai da reunião. Depois retorna, pede a palavra e parece que já havia, naquele momento, tomado a decisão de sair da muvuca em que se meteu e acusar Bolsonaro, visto que a reunião estava sendo filmada e as provas ali estavam. Mas Moro, que disse nunca ser político e sempre foi, principalmente quando juiz, não deixou de aproveitar a baixaria reinante e exibir-se, de outra forma, para os seus seguidores. Então, pediu que fosse incluído no Pró-Brasil o combate ao crime organizado e à corrupção. Ou seja, no meio de tantas baixarias, ele seria o “impoluto de alto nível”. Ali, os moristas também vibraram.

Enfim, o vídeo contém falas agressivas, fascistas, criminosas, baixas, ofensivas, ameaçadoras e comprometedoras para muitos. Se bolsonaristas e moristas vibraram com as performances de seus líderes, ambos ainda terão que se explicar. Está nas mãos do procurador-geral Aras fazer uma denúncia para que ele não passe à história como mais um “engavetador”, como foram os procuradores da Era FHC. Quanto ao Moro, o mesmo STF que hoje liberou o vídeo, ainda irá julgar sua parcialidade como juiz. O jogo só está no começo. E não percamos o foco!

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