O PÓS-MANDETTA: A CIÊNCIA VENCERÁ?

Um Bolsonaro arredio, tímido, nervoso, sem a habitual arrogância e empáfia “à la Alberto Roberto” e com um discurso burocrático e monocórdico, tendo como fundo “panelaços” por todo Brasil, contrastava com um Mandetta aplaudido, sorridente e falando descontraidamente. Assim foram os pronunciamentos após a demissão do ministro da Saúde. Parecia que Bolsonaro era o demitido e Mandetta o nomeado.

Mandetta sai forte, popular e, de todos os ministros do Bozo, foi o que mais cresceu. Se Bolsonaro, um fascista conspirador e que sempre viu e criou sombras ao redor de si, queria se livrar de uma dessas sombras, pode ser que essa sombra venha a crescer. Ou não. Mas, nesse embate entre a direita liberal representada pelo Mandetta e a direita fascista representada pelo Bozo, tememos que o povo pague o pato com a saúde e com a vida.

Se fizermos uma analogia da crise pandêmica com uma guerra, como já vem sendo feita, poderíamos dizer que Mandetta esteve no “comando das tropas” ainda na fase das “trincheiras”. Todos os dados, projeções científicas e modelos matemáticos mostram que a guerra em si vai começar mesmo é agora. Até então, as medidas eram mais defensivas, preventivas, profiláticas. E exatamente aí residia o embate entre o Mandetta e o Bozo. Mandetta sai e o novo ministro Nélson Teich entra no momento em que todas as previsões mostram que muito terá que ser feito para que o sistema de saúde não entre em colapso. No Amazonas já entrou. Em São Paulo e no Rio de Janeiro caminham para o colapso. A já famosa e temida curva está em veloz ascensão. E, no meio de tudo isso, chega o Nélson Teich. Quem é esse cara? Eu não o conhecia. Mas, segundo depoimentos de representantes da classe médica, trata-se de um excelente oncologista. Mas ele também é empresário e teve toda sua trajetória profissional na atividade privada. Não sei nem se já entrou em algum hospital público. Mas algumas coisas nós sabemos. Primeiro que é um elemento estranho ao SUS. Talvez se perguntarem a ele sobre o organograma do SUS que vai administrar, ele não saiba responder. Também é estranho ao mundo político e administrar a vida pública é diferente. Que interlocução Nélson Taich terá com o Congresso, que tem tido participação decisiva em alguns momentos? Mas uma declaração do novo ministro nos traz apreensão: ele disse estar “totalmente alinhado ao Presidente Bolsonaro”. Não, ministro. No meio de tantas dúvidas e incertezas uma coisa, no entanto, é certa até aqui: para combater a pandemia ninguém pode estar “totalmente alinhado” ao Bolsonaro. Conhecimento científico o cara tem, como tem o Mandetta. Ele pode até ter falado isso inaugurando sua carreira de médico-político, como foi o Mandetta. Resta saber se ele vai lutar para colocar o seu conhecimento científico a serviço da saúde dos brasileiros ou se vai render-se à subserviência e capitular perante um projeto genocida de um Presidente que já dá sinais visíveis de transtornos mentais. Boa sorte ao povo brasileiro!