MANDETTA SUBIU NA GOIABEIRA

O “script” era outro e, dentro do enredo, Sérgio Moro seria o “herói nacional”. O banqueiro Guedes ia “salvar a economia”. Alguns outros ministros seriam o ópio em forma de comédia, como Damares, Ernesto Araújo e Weintraub. E outros seriam meros desconhecidos. Luiz Henrique Mandetta enquadrava-se nessa terceira categoria. O ministro da Saúde ia passar pelo governo como mero figurante. Eis que surge o coronavírus. O inimigo microscópico colocou Moro no ostracismo, fechou o “Posto Ipiranga” e alavancou para a berlinda o ministro Mandetta. A turma do ópio sumiu e, de repente, um médico passaria a comandar aquela que, junto com a peste negra e da gripe espanhola, já pode ser considerada uma das piores pandemias da história da humanidade.

Mandetta é político, como todos são. Mandetta é de direita, filiado ao DEM, o mesmo partido de ACM Neto, Caiado e Rodrigo Maia. Mas, como médico, Mandetta tinha outro grande desafio, que era o de colocar a ciência acima do obscurantismo em um governo fundamentalista que sempre desprezou a ciência. Mas Mandetta, em pouco tempo, chamou para si a responsabilidade e, com competência, ganhou a confiança da população e as pesquisas de opinião logo mostraram que o povo confiava mais nele do que no próprio Presidente. Seguindo os protocolos da ciência médica, da OMS e tudo o que a pesquisa científica comprovava, Mandetta cresceu e, no início, parecia ser o único ministro de Bolsonaro “que não falava merda” como o próprio Bolsonaro. Mas “ficar sem falar merda” ainda era pouco. O inimigo microscópico é devastador e era necessário muita ciência. E Mandetta, seguindo a direção de todo o mundo civilizado, mandou o Bozo ir descansar, assumiu a crise, seguiu todos os protocolos, tornou-se protagonista e incomodou Bolsonaro não apenas pelo ciúme. Mas por ter escolhido a saúde em primeiro lugar. Porque pessoas não são números e o vírus não é “gripezinha” e está matando.

Mas, e a economia? As medidas restritivas, como o isolamento social, a restrição do comércio e dos transportes são imperativas e trarão estragos econômicos. E Bolsonaro, olhando para 2022, pensou na recessão e no “pibinho”. Então, aconselhado pelo ” gabinete do ódio”, veio o pronunciamento criminoso de Bolsonaro, onde ele, contradizendo seu próprio Ministério da Saúde, a OMS, a ciência e os especialistas, criticou o isolamento, conclamou a todos para “voltarem à normalidade”, defendeu a reabertura do comércio e das escolas e, novamente, desdenhou o coronavírus. Afinal, ele foi um atleta.

Depois do discurso criminoso de Bolsonaro, Mandetta só tinha duas alternativas. Ou deixava o governo ou rasgava o seu diploma e permanecia. Ele escolheu ficar. Mandetta não rasgou o seu diploma. Modulou seu discurso, criticou o isolamento que antes sua equipe defendia, alegando que seria uma medida “péssima” para a saúde e, tal como Bolsonaro, criticou governadores e prefeitos. Enfim, sucumbiu ao bolsonarismo. Sucumbiu ao obscurantismo. Ele até sugeriu que os fiéis voltassem às igrejas, “mas sem aglomerações”. Mandetta continua ministro e médico. Mas agora ele subiu na goiabeira e parece que lá de cima irá gerir a crise. E muito provavelmente com a ajuda da Damares…

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