
“Melhor nem cogitar o impeachment.” (Fernando Henrique Cardoso, em seu artigo publicado em “O Globo”, em 1º de março de 2020)
FHC meteu a viola no saco e apareceu, em sua coluna no jornal dos Marinhos, para blindar Jair Bolsonaro em um eventual processo de impeachment. Para FHC, o Presidente da República repassar uma mensagem convocando para uma manifestação contra o Congresso e o STF, o que configura claramente um crime contra a Constituição e quebra o juramento feito pelo Presidente perante o Congresso, não é nada de grave. Grave mesmo, para o cardeal tucano, são as tais “pedaladas ficais”, que ele próprio e a doutora Janaína, articuladores do golpe de 2016, já confessaram em outras ocasiões não terem sido motivo para a derrubada da Presidente Dilma.
Na verdade, a entrada em campo de FHC para socorrer Bolsonaro tem uma explicação: a saída de Bolsonaro significaria, automaticamente, a saída de Paulo Guedes. E o PSDB, desde FHC, passando por Aécio, Alckmin e Serra e chegando até Dória, reza totalmente na cartilha neoliberal e anti-Estado do “Posto Ipiranga”.
Quando entrou na aventura golpista contra Dilma, FHC via as tais “pedaladas” como um motivo suficiente para o impeachment. Agora, diante de um atentado e uma ameaça real aos poderes constituídos e constitucionais, com o próprio Presidente repassando a convocação de uma manifestação para hostilizar Congresso e STF, o cardeal tucano, de forma cínica e covarde, escreve hoje em seu artigo no Globo que “falar de impeachment seria, no mínimo, arriscado.” FHC prossegue em sua defesa ao bolsonarismo dizendo que “no impeachment existe sempre um movimento popular, que não se vê no momento. Melhor nem cogitar, prematuramente, de tal movimento.” Duas perguntas a FHC: qual o artigo da Constituição que prevê “movimento popular” para que haja a instauração do processo de impeachment? Outra pergunta: quer dizer que, não havendo “movimento popular” o Presidente pode continuar atentando contra os poderes, a democracia e a Constituição, de modo a não se poder cogitar o impeachment? Aliás, o título do artigo de FHC já diz tudo: “Hora de convergir”. Convergir em torno de quê? Seria em torno de uma aliança antifascista? Não, pra ele é convergir em torno de ir deixando Bolsonaro no poder. Patético o fim de carreira de FHC!
O governo Bolsonaro é um “todo” autoritário e fascista. Não dá para dizer que “é contra Bolsonaro, mas é a favor de Moro”, como alguns, inclusive o próprio Globo para o qual FHC escreve. Sinal disso é que Moro entrou para a história como o primeiro ministro da Justiça que passeou em um tanque de guerra. O “ex-homem da lei” agora é soldado engajado, paramentado e embarcado no tanque para defender Bolsonaro. Quem não viu naquela cena fascista-miliciana um claro sinal das intenções golpistas ou é incauto ou cúmplice.
Também não cola dizer “que é contra Bolsonaro, mas a favor de Paulo Guedes” por causa da agenda econômica. O próprio Guedes já sugeriu a ressurreição do AI-5. Quando, dos dois ministros considerados mais importantes do governo Bolsonaro, um entra em um tanque de guerra (não foi nenhum general!) e o outro sugere AI-5, seus propósitos vão muito além de “pacotes anticrimes” ou “reformas administrativas”.
A covardia de FHC será cobrada e, num momento em que é necessária a formação de uma frente antifascista, ele vem blindar e socorrer Bolsonaro, apesar de todas as evidências de seus crimes contra a ordem constitucional e articulação de um autogolpe. Porém, com Dilma, o tucano e sua laia golpista foram implacáveis. Mas as “pedaladas”…
Claro que deve haver algum “caroço nesse angu”. Mas que “caroço” seria esse, isso só veremos depois. Por enquanto, só temos a lamentar a covardia, o cinismo e a vigarice de FHC. Que já entrou para a história por articular o golpe de 2016. E agora entra, novamente, por blindar o fascismo.