“Hoje, o vigário de gravata
Abençoa a mamata
Lobo em pele de cordeiro…” (Trecho do samba-enredo da São clemente de 2020).
“O Conto do Vigário”, enredo da São Clemente, primeira escola a desfilar nessa segunda-feira de Carnaval, dispensou qualquer interpretação. A escola fez uma crítica sagaz ao bolsonarismo e as frases expostas na avenida não deixaram dúvidas: “A Terra é plana”; “Foi o Leonardo di Caprio”; “Acabou a mamata” e “Tá ok?” tinham endereço certo. O ator Marcelo Adnet, representando Bolsonaro, ainda fez “arminha com a mão” e “pagou” algumas flexões de araque, bem ao estilo do fascista que governa o nosso país.
Mas por falar em conto do vigário, em se tratando de Bolsonaro, não poderiam faltar os “laranjais” que marcaram candidaturas do partido que elegeu Bolsonaro e, talvez, aquilo que é a marca registrada do conto do vigário bolsonarista: a fábrica de “fake news”, que atuou desde a campanha e que a CPI vem mostrando que ainda funciona a todo vapor até no Palácio da Alvorada. Aliás, seria bom que o enredo da São Clemente tivesse algum efeito didático, de modo a levar os incautos a não mais acreditarem em “kits gays” e “mamadeiras de piroca”, que certamente ressurgirão nas eleições municipais.
O Carnaval de 2020 está terminando, mas muita crítica política ainda teremos pela frente. E se há uma característica inegável que marcou o Carnaval desse ano é o engajamento político, especialmente a crítica à extrema-direita fundamentalista, preconceituosa, racista, armamentista e exterminadora de direitos, representada pelo bolsonarismo.
Para aqueles que sempre disseram que o Carnaval não passa de alienação e ópio, a resposta vem sendo dada nas ruas. Muito pelo contrário, esse Carnaval vem mostrando que o ópio são as crenças que visam manipular as pessoas para enganá-las e o recado da São Clemente foi muito claro. Só em denunciar esses vigaristas a São Clemente é uma vitoriosa que não passará em branco quando, daqui a alguns anos, os livros de história estiverem mostrando as críticas que foram feitas num período em que Brasil viveu o obscurantismo. Valeu São Clemente!