MANGUEIRA E O JESUS DO POVO

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“Não tem futuro sem partilha

Nem messias de arma na mão…” (Trecho do samba-enredo da Mangueira de 2020).

Sabe aquele Jesus verdadeiro que pastores como Edir Macedo, Silas Malafaia, Waldemiro Santiago, RR Soares e outros exploradores da fé aliados do bolsonarismo não mostram? Pois foi exatamente esse Jesus, que nunca é mostrado nos discursos e pregações fundamentalistas, que a Mangueira levou para a Marquês de Sapucaí neste domingo de Carnaval. O desfile mangueirense pode ser considerado como um grande ícone de enfrentamento ao fascismo bolsonarista.

O Jesus mostrado pela Mangueira é um Jesus que se identifica com os oprimidos, vítimas de violência, especialmente da violência perpetrada pelo próprio Estado. O “Jesus mulher”, o “Jesus índio”, o “Jesus negro”, o “Jesus gay” o “Jesus crivado de balas”. Enfim, o Jesus na pele daqueles que historicamente e, especialmente na atual conjuntura brasileira, são vítimas da discriminação e do ódio.

Em uma contundente crítica à extrema-direita representada por Bolsonaro, a Mangueira fez de seu desfile uma mensagem contra a intolerância, o ódio e o preconceito. A Mangueira também denunciou as injustiças sociais, que certamente seriam denunciadas por Jesus estando entre nós. Um “Jesus da gente” foi mostrado na Sapucaí: o Jesus do trabalho, do suor, do sangue. Um Jesus que luta pela partilha e “sem messias de arma na mão”.

Claro que, como diz a própria letra do samba: vão inventar mil pecados contra a Mangueira. Especialmente os “profetas da intolerância”, sejam eles dos templos neopentecostais, da mídia bolsonarista ou dos próprios palácios do governo.

O Jesus do povo, dos oprimidos e discriminados desfilou brilhantemente pela Marquês de Sapucaí, emocionando a plateia, varrendo o obscurantismo fundamentalista e trazendo uma mensagem de paz e tolerância. Um Jesus que, conforme foi mostrado no desfile, é capaz de unir a todos, independentemente de credos ou crenças. Um Jesus que veste indiscriminadamente o azul ou o rosa. Que pode ser índio ou negro. Que pode ser homem ou mulher. E que, se preciso for, jamais ficará em cima de uma goiabeira vendo as injustiças, a violência contra os mais vulneráveis e tolerando preconceitos. E ontem esse verdadeiro Jesus, que também gosta de samba, abençoou o Brasil através da querida Estação Primeira de Mangueira.

Um comentário sobre “MANGUEIRA E O JESUS DO POVO

  1. Martha

    Emocionante texto. Colocou em palavras meus pensamentos a respeito do desfile. Ao contrário de muitos pragas lançadas por aqueles que se dizem crédulos(o que é uma metáfora)… Não caiu o tal dilúvio para castigar a mangueira, pelo contrário parou de chover fez uma noite fresca e segura. Tenho certeza que Deus entendeu o enredo e isso nos basta………….

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