Crédito da imagem: Nani, publicado em tijolaço.net
Desde a época da ditadura militar que a Casa Civil não era ocupada por um militar. O último militar ocupante da pasta, que tem estreita proximidade com a Presidência da República, havia sido o general Golbery do Couto e Silva. Isso, há quase 40 anos, no governo Figueiredo. Essa semana o general Braga Netto, que tornou-se conhecido por ser o comandante da intervenção militar no Rio de Janeiro, foi nomeado para substituir o desgastado, esvaziado, inoperante e desprestigiado Onyx Lorenzoni. A ida do general Braga Netto para a Casa Civil aumenta a militarização do Planalto e do Ministério bolsonarista como um todo. Ainda não fiz o levantamento, mas provavelmente o governo Bolsonaro venha a ser aquele que mais teve ministros militares em toda a história. Mais assessores militares até mesmo do que os governos da ditadura militar. Agora, todo Planalto está militarmente blindado, visto que, além da Casa Civil, a Secretaria-Geral, a Secretaria de Governo e o Gabinete de Segurança Institucional que, junto com a Casa Civil, funcionam no Palácio do Planalto, também já eram ocupados por generais. O Planalto está, literalmente, militarizado.
A militarização do governo Bolsonaro, chegando até a Casa Civil, pode ter diversas leituras. Há uma, entretanto, que é imediata: a chamada “ala ideológica” do governo ultra-direitista, que abrange os seguidores do astrólogo e “filósofo coprológico” Olavo de Carvalho sai enfraquecida. Depois de quase 40 anos anos, o que mais poderia significar o retorno de um militar à Casa Civil?
Em nosso entender, a absoluta falta de quadros por parte da extrema-direita está levando a essa militarização. Basta ver a pasta da Educação, talvez a mais inoperante do governo. Ou ainda as Relações Exteriores. Ambas, de linha “olavista”, envergonham o Brasil. Quem existe, dentro dos quadros bolsonaristas, que seja um quadro competente, do ramo, para ocupar pastas como essas?
A Casa Civil é um cargo essencialmente político e entendemos que sua ocupação por um militar é absolutamente inadequada. Mesmo porque Braga Netto, além de ser um militar da ativa, não é um “ideólogo” como foi Golbery. Basta dizer que Golbery, dentre outras coisas, foi o mentor da reforma partidária de 1979, que dividiu as oposições numa época em que a ARENA, partido do governo militar, estava em franco declínio. Resultado: o governo militar passou, com essa divisão, a ter o maior partido, o então PDS. Jogada de mestre e Golbery era, de fato, uma exceção. Outro detalhe importante: Golbery tornou-se ministro-chefe da Casa Civil nos momentos da chamada “distensão política”, durante os governos Geisel-Figueiredo, governos esses que enfrentaram a chamada “linha dura” e tiveram que tomar partido contra os atentados terroristas fascistas (ataques à OAB e Câmara Municipal, além do malogrado atentado do Riocentro). Só que Bolsonaro, diferentemente, inflama o extremismo de direita e nem ele próprio e seus ministros medem palavras, atos e suas consequências.
O que esperar de Braga Netto em mais uma “intervenção” para a qual foi nomeado? Ele não é propriamente um “ideólogo” como foi Golbery, o último milico ocupante de sua cadeira. E Braga Netto tem um lastro de popularidade, visto que a intervenção militar no Rio de Janeiro inegavelmente teve o apoio da grande maioria da população, mesmo cometendo excessos e não gerando os resultados prometidos.
Bolsonaro, sem quadros entre os ideólogos olavistas, recorre aos militares. De uma certa forma, a o recurso aos militares pode ser um meio de compensar a absoluta incompetência dos olavistas. O ministro da Educação que o diga. Pode ser também um modo de empanar, com a visibilidade das tropas legais, a sua íntima relação e de sua família com paramilitares milicianos. De qualquer modo, não basta ser general. Santos Cruz que o diga. Braga Netto vai começar tendo que enfrentar o astrólogo-guru. E, conforme for, o próprio Bolsonaro. Caso ele consiga, enfrentando ambos, manter-se no cargo, aí já vale o título de “Golbery II”.