“Uma pessoa com HIV é uma despesa para todos aqui no Brasil.” (Jair Bolsonaro, em 5 de fevereiro de 2020).
“Esse dinheiro do auxílio-moradia eu usava para comer gente.” (Jair Bolsonaro, em entrevista à jornalista Camila Mattoso, da Folha de São Paulo, em 11 de janeiro de 2018).
Jair Bolsonaro, em mais uma de suas preconceituosas e odiosas afirmações, lamentou a despesa que o país tem para tratar dos portadores do HIV. Disse o capitão enfurecido, que “uma pessoa com HIV é uma despesa para todos no Brasil.” A afirmação foi feita em defesa da campanha “Sexo Zero”, da ministra fundamentalista Damares Alves. A própria Agência de Notícias da AIDS, um portal especializado em divulgar informações e meios de prevenção de doenças, sob o ponto de vista científico, repercutiu a afirmação de Bolsonaro e sua motivação. Esclarece o portal, citando como fonte a revista Carta Capital:
“O programa que Bolsonaro comentou é idealizado pela ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, junto com o Ministério da Saúde. A iniciativa não tem suporte científico e por isso não deve ser levado em frente. É o que recomendaram as defensorias pública da União e de São Paulo ao governo federal.
A recomendação das defensorias é que os ministérios não veiculem a campanha, prevista para começar nos primeiros dias do mês de fevereiro, mês do carnaval. Além da falta de comprovação científica, os órgãos argumentam que a ineficácia desse tipo de iniciativa já foi refutada por pesquisas nacionais e internacionais.
Nos Estados Unidos, onde políticas de abstinência sexual existem há quase 40 anos, estudos não comprovaram queda nas taxas de gravidez na adolescência e muito menos na proliferação de infecções sexualmente transmissíveis a partir da recomendação do início tardio da vida sexual.”
Se cientificamente a campanha de abstinência sexual não se sustenta, em razão de não reduzir os índices de gravidez na adolescência, vamos então falar das despesas lamentadas por Bolsonaro. Em primeiro lugar, tratamento de portadores de HIV deve sim ser despesa de todos nós, visto que é obrigação do Estado cuidar da saúde de sua população. E receber tratamento digno é direito de todo cidadão. Mas já que é para falar de “despesas para todos aqui no Brasil”, então sigamos a lógica bolsonarista, lembrando ao capitão enfurecido que:
Auxílio-moradia para juízes que possuem residência própria e ainda moram na cidade em que trabalham também é uma despesa para todos aqui no Brasil;
Pensões vitalícias para filhas de militares que nunca trabalharam e fingem que são solteiras também é uma despesa para todos aqui no Brasil;
Gastos nababescos com cartão de crédito corporativo da Presidência da República que batem recordes históricos de farra com dinheiro público e sem divulgação dos gastos também é uma despesa para todos aqui no Brasil;
Funcionários fantasmas de parlamentares com cobrança de “rachadinhas” usando “laranjas” como operadores também é uma despesa para todos aqui no Brasil;
Uso de jatos da FAB, de forma indiscriminada e abusiva por membros do governo e do Legislativo também é uma despesa para todos aqui no Brasil;
Os salários de deputados, senadores e seus assessores, que fazem do Congresso brasileiro o segundo mais caro do mundo, também é uma despesa de todos nós aqui no Brasil, principalmente quando alguém fica quase 30 anos como parlamentar e tem apenas dois projetos aprovados;
Empregar parentes, incluindo ex-esposas, também é uma despesa de todos nós aqui no Brasil. Só para citar algumas das “muitas despesas de todos aqui no Brasil”;
Ah, e antes que eu me esqueça: usar o dinheiro do auxílio-moradia para “comer gente” também é uma despesa para todos aqui no Brasil, certo?
Seria bom, então, que Bolsonaro se preocupasse com várias das despesas aqui citadas e que o atingem pessoalmente, à sua família e ao seu governo. E seria muito melhor que ele parasse de falar besteiras, tomasse verdadeiramente posse como Presidente, deixasse de declarar guerra ao nosso próprio país e começasse a governar de fato o Brasil.