“No meio do caminho tinha uma PETRA
Tinha uma PETRA no meio do caminho
Tinha uma PETRA
No meio do caminho tinha uma PETRA

Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma PETRA
Tinha uma PETRA no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma PETRA.” (Paródia do poema “No Meio do Caminho”, de Carlos Drummond de Andrade).

A cerimônia de entrega do Oscar acontecerá no próximo domingo, 9 de fevereiro. Agora, imaginem um telejornal, de edição nacional, que apresenta uma longa matéria sobre a entrega do Oscar. Imaginem ainda que um filme brasileiro está entre os indicados para a disputa de melhor documentário. Imaginem também que esse filme brasileiro indicado ao Oscar tem na direção uma mulher, que já entrou para a história do prêmio como sendo a primeira mulher latino-americana (e não apenas brasileira) a concorrer ao prêmio de melhor documentário – Petra Costa. Evidentemente, seria de se esperar que a longa matéria desse telejornal falasse do representante brasileiro e sua diretora que estará concorrendo ao prêmio de melhor documentário. No entanto, acreditem: na longa matéria levada ao ar na edição de ontem que tratava da entrega do Oscar, o Jornal Nacional, da Rede Globo simplesmente ignorou e nem mencionou o filme brasileiro e sua diretora que, independentemente do resultado de domingo, há fizeram história no Oscar.

Estamos falando do documentário “Democracia em Vertigem”, da cineasta Petra Costa, que estará representando o cinema brasileiro no próximo domingo. No entanto, para a Rede Globo, é como se o documentário brasileiro não existisse. Nem mesmo uma simples menção foi feita, ao contrário da mídia nos Estados Unidos e outros países, em que o documentário vem tendo grande destaque. Terá sido por vergonha que a Globo omitiu o documentário brasileiro em sua matéria? Sim, porque o documentário fala do golpe contra a Presidente Dilma em 2016, efetivado em um conluio Temer-PSDB e com a participação da própria Globo. Aliás, muitos daqueles que foram usados como patos amarelos no papel ridículo que fizeram à ocasião, estão igualmente sendo ridiculamente expostos para o mundo no documentário. Mas o tiro do golpe da Globo saiu pela culatra porque, ao participar efetivamente do golpe, a Globo pretendia tirar o PT  do poder e trazer de volta a Era Tucana ao Brasil. Só que, como mostra o documentário, a Globo e seus penduricalhos acabaram impulsionando a entrada do Brasil no governo fascista da era “Bozozóica”. Hoje, não apenas a Globo como muito dos que apoiaram o golpe e impulsionaram o fascismo, estão pagando a conta por terem armado a cama para o Bozo. Eles merecem!

A edição do Jornal Nacional de ontem mostra que de “independente” o jornalismo da Globo nada tem. Para muitos que entram em uma aventura golpista, a fatura sempre vem de algum modo. Mas quem é a grande cobradora de tudo é uma mestra chamada História. Universidades já ministraram cursos sobre o golpe de 2016; livros já foram lançados sobre o golpe e agora um documentário que, queira ou não Bolsonaro, queira ou não a Rede Globo, queira ou não o PSDB, queira ou não o Temer e seus comparsas, queira ou não o Pedro Bial ou o Merval Pereira, está mostrando ao mundo uma leitura irreprochável sobre o golpe parlamentar-empresarial-midiático que tirou a Presidente Dilma do poder e teve como consequência direta a ascensão da extrema-direita em nosso país.

Mais uma vez a Globo sendo Globo: omissa, covarde e incapaz de, em uma matéria específica sobre o Oscar, não falar absolutamente nada sobre o representante brasileiro que concorre ao prêmio. A Globo e os demais golpistas jamais poderiam imaginar que, no meio do caminho, tinha uma Petra!