“Turbilhão de crises mostra que é preciso apressar concessão da Cedae.” (O Globo, em seu Editorial de 7 de fevereiro de 2020).
Então aquilo que nós e muitos outros falamos durante esta semana está começando a ganhar corpo. Hoje, em seu Editorial, o jornal O Globo defende claramente que a solução para os problemas da água no Rio de Janeiro é a privatização da Cedae. O jornal da família Marinho é direto em sua sanha privatista:
“Diante do histórico da empresa estatal, imagina-se qual será a próxima fonte de dor de cabeça. Nesse sentido, é essencial que se apresse o processo de privatização da companhia, cuja modelagem está sendo feita pelo BNDES. O turbilhão de crises no Guandu chegou ao limite. E a paciência dos fluminenses também.”
Como dizíamos em artigo recente, a crise é um projeto para justificar a privatização. Toda a administração da Cedae, especialmente no governo Witzel, tem sido uma usina de crises, incompetências e sucateamento, visando levar a empresa ao descrédito junto à população para que a privatização seja aceita como uma solução mágica para o fim dos problemas e a retomada da qualidade. Não diz o jornal dos Marinhos que a empresa demitiu 54 funcionários de carreira, todos técnicos, para colocar em seus lugares apadrinhados do pastor Everaldo, o Presidente do PSC, partido do governador Witzel. Foi o pastor Everaldo que indicou o presidente da Cedae, Hélio Cabral. O projeto é bem simples: não fazer investimentos, demitir técnicos, sucatear a empresa e fornecer água podre aos fluminenses. Então, como diz O Globo em seu Editorial, a paciência dos fluminenses chegou ao limite. Logo, privatize-se imediatamente a Cedae.
Mas O Globo esquece-se (será?) que a paciência dos fluminenses também já se esgotou há muito tempo com o serviço dos transportes públicos (todos privados). As empresas de ônibus do Rio de Janeiro oferecem os piores serviços possíveis e com tarifas altíssimas. Ônibus caindo aos pedaços, infestados de insetos, longos intervalos, fim de linhas que deixam passageiros sem transportes e sem climatização em um verão escaldante. Isso sem falar do desrespeito a idosos e estudantes. E mais: envolvidas em lautos esquemas de corrupção, capitaneado pela família Barata. Todo serviço privatizado. Será que O Globo, seguindo seu próprio raciocínio, não irá dizer que é preciso apressar o processo de estatização das linhas de ônibus? Mas quando acabaram com a CTC, que era do Estado, disseram que tudo ia melhorar. Pior que o povo acreditou.
E o que falar das barcas? Hoje as barcas cobram a tarifa mais alta de todo transporte do Rio de Janeiro. E toda logística é montada apenas para satisfazer a planilha de lucros dos empresários. A última que eles aprontaram contra a população foi mudar horário e trajeto da barca que vai para a Ilha de Paquetá e que agora faz uma parada na estação do Cocotá, na Ilha do Governador. Tudo dificultou a vida dos moradores das duas ilhas, que até hoje estão protestando e não veem solução. A insatisfação dos usuários das barcas é flagrante. Será que O Globo, seguindo seu próprio raciocínio, não irá dizer que é preciso apressar o processo de estatização das barcas? Mas quando acabaram com a CONERJ, que era do Estado, disseram que tudo ia melhorar. Pior que o povo também acreditou.
São inúmeros os exemplos e poderíamos também citar a Vale, que foi privatizada e cometeu o maior crime da história de uma empresa na tragédia de Brumadinho. Virou uma empresa privada assassina. Mas quando privatizaram a Vale também disseram que tudo ia melhorar e o povo também acreditou. Claro que existem gestões públicas ineficientes, assim como também há ineficiência em gestões privadas. A responsabilidade do problema da água no Rio de Janeiro é do governador Witzel. Foi ele que fez da empresa um feudo político do pastor Everaldo. Portanto, Witzel é o responsável e deve ser chamado à sua responsabilidade. Seria o caso até de uma CPI. Por que 54 técnicos foram demitidos no início do ano? Por que protocolos elementares, segundo mostram engenheiros sanitários, não foram aplicados? Por que investimentos essenciais não foram feitos? A resposta está no Editorial de O Globo de hoje: para entregar a empresa à iniciativa privada. Só que, dessa vez, o povo não pode cair na armadilha, como caiu quando privatizaram os transportes.
A água é um direito humano, pois é fundamental à vida e não pode ser objeto de comércio. Tudo o que acontece hoje na Cedae é a culminância de um projeto em curso que tenta exatamente tirar a credibilidade da empresa para entregá-la às aves de rapina de sempre. Geosmina e detergente são “fichinhas”. O Globo está no lobby pela entrega de nossa água aos mascates de plantão. Não tenham dúvidas de que a privatização irá encher a nossa água de “baratas”. Assim como já fizeram com os nossos transportes.