A ÉTICA DE GLENN QUE MORO NÃO APRENDEU

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“Se o juiz Sérgio Moro ou o procurador Deltan Dallagnol tivessem conversado nos termos em que o repórter Glenn Greenwald conversou com os hackers da Lava-Jato, a Vaza-Jato não existiria…” (Elio Gaspari, em sua coluna dominical de “O Globo”, edição de 26 de janeiro de 2020).

Existe um conhecido ditado que diz que a verdadeira ética só é praticada por uma pessoa quando ela pratica as boas atitudes fora dos holofotes, sem a necessidade de que ninguém a veja. Contrariamente àqueles que, em público, dizem e fazem uma coisa e, em um ambiente privado, dizem e praticam coisas completamente contrárias àquilo que pregam publicamente.

Os episódios que envolvem as conversas do então juiz Sérgio Moro com o procurador Deltan Dallagnol e do jornalista Grenn Greenwald com o hacker Luiz Molição, que culminou no escândalo da Vaza-Jato e desmascarou Moro e procuradores, especialmente Dallagnol, ilustram muito bem esse conhecido ditado.

E nada melhor do que a citação de Elio Gaspari, em sua coluna dominical em O Globo, publicada hoje, para mostrar que não estamos sozinhos nessa opinião. Afinal, O Globo é um jornal extremamente lavajatista e pró-Moro e essa citação de Elio Gaspari mostra que até no jornal que defende Moro temos como perceber a diferença das atitudes de Moro e Dallagnol em seus diálogos, em relação às atitudes de Glenn em seus diálogos com o hacker Luiz Molição. E quão grande é essa diferença!

Primeiro: em ambos os casos, ninguém sabia que seus diálogos tornariam-se públicos, o que daria uma suposta liberdade para qualquer um dizer o que quisesse. Às favas com a tal da ética, embora em um diálogo houvesse um juiz e, em outro, um jornalista. Claro que um juiz pode conversar com qualquer procurador. Tanto que os defensores de Moro até hoje repetem isso para dizerem que foi um diálogo “normal”. Do mesmo modo que um jornalista não só pode, como deve conversar com uma potencial fonte de informações. Tudo dentro da lei e e da responsabilidade profissional. E o que vimos nas duas conversas?

Quanto aos diálogos de Moro com Dallagnol é chover no molhado citar novamente tudo o que eles conversaram. Porém, uma coisa é certa: faltou ética, faltou limite, faltou responsabilidade profissional. Faltou caráter. Os diálogos revelaram insofismavelmente que Moro atuou como chefe da promotoria, agiu politicamente e ainda sugeriu a substituição de uma procuradora. Moro chegou a dizer que não melindraria Fernando Henrique por tratar-se de um “aliado”. Quanto a Dallagnol, este quis até monetizar a Lava-Jato para ganho próprio. Vergonhoso!

E o que temos no diálogo entre Glenn Grrenwald e o hacker? Em dado momento da conversa Glenn, sendo totalmente profissional e ético, diz que, como jornalista, não poderia se envolver em operações de interceptação e nem dar conselhos ao seu interlocutor. Basta apenas saber ler para ver as diferentes posturas de Moro/Dallagnol e de Glenn Greenwald em seus diálogos. Glenn o tempo todo foi jornalista, enquanto Moro não foi juiz e nem Dallagnol foi procurador. Transcrevemos, inclusive, um trecho do diálogo entre Glenn e o hacker Luiz Molição, em que Glenn cita, explicitamente, a palavra “ética” para nortear tudo o que pode ou não fazer como profissional:

GLENN GREENWALD: “Entendi. Então, nós temo… é… vou explicar, como jornalistas, e obviamente eu preciso tomar cuidado como com tudo o que estou falando sobre “essa assunto”, como jornalistas, nós temos uma obrigação ética para “co-dizer” (?) nossa fonte.” (Transcrito na versão original).

Em outro trecho, Glenn dá uma verdadeira aula prática de ética, coisa que geralmente os “teóricos” não fazem. Se Moro, como juiz e de forma irresponsável, deu conselhos a Dallagnol, eis o que disse Glenn ao hacker:

GLENN GREENWALD: “Sim, sim. É difícil porque eu não posso te dar conselho, mas eu eu eu eu tenho a obrigação para proteger meu fonte e essa obrigação é uma obrigação pra mim que é muito séria, muito grave, e nós vamos fazer tudo para fazer isso, entendeu?” (Transcrito na versão original).

Evidentemente os diálogos não deixam dúvidas. O comportamento de Glenn foi ético, profissional, responsável. Digno de quem já recebeu os maiores prêmios do mundo em jornalismo. Já Moro e Dallagnol… Certamente esses devem aprender com Glenn, não jornalismo, mas ética. Para que, a partir daí, eles possam vir a ser alguma coisa. Porque Moro não foi juiz. Nem Dallagnol foi procurador. Mas Glenn, ao contrário, foi jornalista. E a diferença nisso tudo chama-se ética!

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