A GANGORRA DA DIREITA

a luta 3

“Todos os ministros têm o mesmo valor para mim e eu interfiro em todos os ministérios.” (Jair Bolsonaro, em entrevista à Band TV, em 24 de janeiro de 2020).

Em novembro de 2018 quando Bolsonaro, na condição de Presidente eleito, estava formando o seu ministério, duas mensagens muito claras foram mandadas: a primeira, foi a de que Sérgio Moro seria um super-ministro, tendo sob sua gestão a pasta da Justiça, agora enxertada com a Segurança Pública. E a segunda mensagem foi a de que Sérgio Moro teria “carta branca” em suas iniciativas no seu ministério. Ele não falou que todos os ministros teriam carta branca. Apenas Sérgio Moro.

Porém, mal o governo começou, Sérgio Moro sentiu que não seria aquele “super-homem” que era quando de seu reinado na “República de Curitiba”. E o primeiro revés veio por uma questão simplória: Bolsonaro vetou a indicação, feita por Moro, de uma suplente, repetindo, de uma suplente, para o Conselho de Segurança Pública. Se nem a suplente de um conselho meramente consultivo Moro não teve poder para indicar, então ele não teria a tal “carta branca” para absolutamente mais nada. E assim se fez. Em vários momentos, Bolsonaro desautorizou Moro e chegou a lembrar ao ex-juiz que ele “não tinha mais a caneta na mão.”

Evidentemente observa-se, desde o início do governo, uma queda de braço Moro-Bozo e essa queda de braço chegou há muito nas redes sociais. Sempre que Bolsonaro desautorizou ou procurou esvaziar Moro, logo a claque morista se manifestava pelas redes sociais em protesto contra Bolsonaro. A divisão da direita dentro do governo, entre Bolsonaro e Moro, é visível e, na verdade, eles se aturam porque, de alguma forma, um ainda precisa do outro. Moro precisa do espaço no governo de extrema-direita para deixar algum legado que possa, no futuro, capitalizar politicamente. Já Bolsonaro, sabedor de que Moro, como mostram as pesquisas, tem uma popularidade maior do que a dele, não pode descartar Moro tão facilmente. Então, eles vão se suportando. Bolsonaro, como candidato à reeleição, sempre esteve em campanha desde o primeiro dia de seu mandato. Já Moro, apoiado por outra fatia da direita, é um virtual candidato à Presidência em 2022 e assusta Bolsonaro. É um jogo de estratégia, paciência e conspirações, que em algum momento vai estourar.

E quase que estoura essa semana, quando Bolsonaro aventou a hipótese de recriar o Ministério da Segurança Pública, que sairia da pasta da Justiça, esvaziaria Moro e o colocaria como mero figurante em seu governo. Novamente a horda pró-Moro reagiu nas redes sociais. Há um detalhe importantíssimo: a entrada de Sérgio Moro no Instagram, no mesmo dia em que a possibilidade de desmembramento do seu ministério foi anunciada, não foi mera coincidência. Com várias interações de seguidores em sua nova rede social, Moro parece ter assustado Bolsonaro, que depois falou em “chance zero” de desmembrar a pasta de Moro.

Porém, a queda de braço não parou. Em entrevista no dia de ontem, na Band TV, Bolsonaro falou que “não precisa fritar ministro para demiti-lo” (Bebianno que o diga!). Porém, na mesma entrevista, Bolsonaro não perdeu a oportunidade de colocar Moro em uma outra posição, bem diferente daquela que ele dizia em novembro de 2018: disse Bolsonaro que, para ele “todos os ministros têm o mesmo valor” e ainda que “interfere em todos os ministérios.” Ou seja: de uma tacada só, Bolsonaro tirou de Moro a condição de “super-ministro” e ainda disse que ele não tem carta branca nenhuma. Claro que a declaração foi mais um golpe de Bolsonaro em Moro. Vaidoso e egocêntrico, Moro jamais aceitará ser igual, por exemplo, ao Weintraub. Talvez venha aí uma nova briga no governo, agora entre ministros, para mostrar ao chefe quem é melhor. Vai ser a luta do “conje” com o “imprecionante”.

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