“Militares no INSS? Não tem cabimento…” (General Santos Cruz, via Twitter, em 16 de janeiro de 2020).
Em 2014 precisei tirar uma Certidão de Tempo de Contribuição (CTC) em uma agência do INSS. Na porta da agência havia uma barraquinha onde se vendia café, água, refrigerantes, biscoitos, etc. Mas na barraquinha também tirava-se cópias do tipo xerox, coisa muito útil, pois quase sempre eram necessárias ao segurado as cópias de alguns documentos. Fiquei impressionado com o conhecimento do rapaz da barraquinha. Ele sabia exatamente quais os documentos necessários para qualquer coisa. E ainda orientava e dava informações aos segurados. O rapaz, mesmo em um emprego informal, parecia um funcionário da recepção do INSS lá de sua barraquinha.
Agora Jair Bolsonaro anuncia que irá convocar militares da reserva para o mutirão que será feito no INSS, com o intuito de atender à demanda daqueles que precisam da seguridade social. A reforma da previdência encomendada pelos banqueiros foi aprovada. Certamente, se alguém for a algum banco privado para comprar algum plano de previdência privada, tudo está funcionando no sistema. Mas o sistema do INSS não foi atualizado para a reforma que o governo tanto queria. Então, depois de décadas, voltaram as filas do INSS e todos os processos estão parados. E, na maior tranquilidade, o governo diz que tudo se normalizará só em setembro. (Sic!)
Então, Bolsonaro decidiu convocar militares da reserva para mais uma “boquinha”. Eles serão chamados para o trabalho de atendimento no INSS e, por esse trabalho, o contracheque deles irá engordar em 30%. Evidentemente, surge a pergunta: já que é para convocar uma equipe complementar, por que militares? E por que não funcionários do INSS já aposentados? Ou ainda, por que não dar uma oportunidade de trabalho, mesmo que temporário, para desempregados ou pessoas que vivem na informalidade, como o tal rapaz da barraquinha que sabia tudo sobre a documentação necessária? Ou ainda, por que não dar uma oportunidade a jovens que completaram 18 anos? Por que tudo tem que ser militarizado?
Não estamos sozinhos em nossa opinião. O general Santos Cruz, um dos mais respeitados de nosso Exército, foi absolutamente contrário à convocação de militares. Disse o general em seu Twitter:
“Militares no INSS? Não tem cabimento. Os funcionários do INSS sabem dar as ideias para a solução. Tem que valorizar a instituição e as soluções irão aparecer. Colocar militares para qq coisa é simplismo, falta de capacidade administrativa. É obrigação valorizar as instituições.”
Essa decisão de Bolsonaro mostra, mais uma vez, a sua falta de compromisso com as instituições. Ele está, subliminarmente, querendo dizer que os militares da reserva, que sequer foram aposentados pelo INSS, têm melhores condições de trabalhar na área do que os servidores civis que por lá passaram. Serão 7 mil militares da reserva engordando os seus contracheques, trabalhando em uma área que desconhecem sob todos os aspectos. E nem uma empatia eles poderão fazer ao se depararem com as pessoas que necessitam da seguridade social. Simplesmente porque eles ficaram de fora da reforma da previdência. O “sacrifício patriota” foi para os de sempre…