“O governo vai bem porque dá sequência ao que eu fiz.” (Michel Temer, elogiando o governo Bolsonaro, em entrevista ao “Estadão”, em 2 de janeiro de 2020).
Temer assumiu, em entrevista publicada ontem no Estado de São Paulo, que votou em Bolsonaro no segundo turno, alegando que “votou em quem não falou mal de seu governo”. E tascou elogios ao governo Bozo, dizendo que vai bem “porque dá sequência ao que eu fiz”. Se o próprio Temer assume ter votado em Bolsonaro e vê no atual governo uma continuidade do seu, então fica claro que essa história de “nova política” contra “velha política” é “conversa para boi dormir”. Bolsonaro, embora tenha sido um deputado federal absolutamente nulo, conhece muito bem o funcionamento do Congresso e, se Temer praticou o “toma lá, dá cá”, especialmente para manter-se no poder após o escândalo da gravação do Joesley, Bolsonaro também praticou o mesmo “toma lá, dá cá” para aprovar a reforma da previdência. Bolsonaro conhece bem o lado “prostituta” do Congresso e fez composição até com o seu bloco mais “prostituta”, o famigerado, fisiológico, vendilhão e sempre governista “Centrão”. Onde está a “nova política”?
Na entrevista, Temer ainda blindou Sérgio Cabral e Eduardo Cunha, bandidos de seu partido, alegando que está aguardando as decisões finais do Judiciário sobre os companheiros de legenda. Do mesmo modo que Bolsonaro blinda o ministro do Meio Ambiente, Ricado Salles, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, além de seus familiares envolvidos em escândalos. Onde está a “nova política”?
Justificando o extremismo bolsonarista, Temer afirma que “se Lula radicaliza de um lado, dá chance ao Bolsonaro ficar na posição inversa.” Ou seja, Temer diz que Bolsonaro radicaliza porque Lula dá chance. Esquece o golpista de duas coisas: que Bolsonaro a vida inteira radicalizou, especialmente na campanha e que, como Presidente, não pode ter essa postura. E esquece-se ainda que, na condição de Presidente, Lula jamais radicalizou, ao contrário de Bolsonaro. Uma coisa é uma postura radical de um oposicionista. Outra coisa é uma postura radical de quem ocupa a Presidência da República.
Em outro trecho da entrevista, parece que Temer atribui exclusivamente a Lula a tarefa de “pacificar o país”. Temer afirmou que Lula deveria ter dedicado os 580 dias que passou na prisão para pacificar o país e pregar a unidade. Esquece-se o golpista que, enquanto isso, sem qualquer propósito, Bolsonaro falava, poucos dias antes do segundo turno, que “mandaria os petralhas para a Ponta da Praia (centro de torturas e execuções da ditadura militar) e que iria metralhá-los.” Se Lula preso, como pensa o golpista Temer, tinha o dever de pregar a pacificação e unidade do País, o que Bolsonaro, ocupando o mais alto cargo da Nação, tem feito nesse sentido? Isso o golpista não falou. Em menos de um ano de governo, Bolsonaro conseguiu brigar com seu partido e com seus mais fiéis apoiadores, desde ministros a parlamentares. Isso, para o golpista, talvez seja uma forma de “pacificar” o país. Aliás, quando perguntado sobre o estilo de Bolsonaro, ele não fala em radicalismo ou extremismo e sim, simplesmente, em “estilo”.
Claro que Temer é Bozo. Todos aqueles que apoiaram o golpe que levou Temer ao poder votaram em Bolsonaro. Todos aqueles que apoiaram a prisão (ilegal) de Lula votaram em Bolsonaro. Todos aqueles que se venderam, por duas vezes, para manter Temer no poder votaram em Bolsonaro. Então, nada mais natural do que o próprio Temer votar, elogiar e apoiar o governo Bolsonaro. Parafraseando o velho e saudoso Clodovil, “boi preto apóia e defende boi preto”…