“Se há algo que jamais farei em toda minha vida é votar na direita.” (Jürgen Klopp, técnico campeão mundial pelo Liverpool).
Para além do talento na arte ou no esporte, a mensagem que transcende a música e o futebol acaba fazendo o recado ir além do palco ou das quatro linhas. Liverpool é a cidade inglesa dos Beatles, e tornou-se famosa especialmente por eles. Mas, além do talento, os Beatles mandaram uma mensagem que extrapolou a arte. A música foi um eixo para recados muito maiores. “Imagine”, só para dar um único exemplo, tornou-se um hino mundial pela paz, na voz do onipresente John Lennon.
Agora, a já famosa cidade inglesa alcança um outro patamar (sem nenhum sentido de réplica ao Bruno Henrique que, em meu entender, é atualmente o melhor jogador em atividade do Brasil). Mas a palavra “patamar” torna-se oportuna porque, se os Beatles de Liverpool encantaram o mundo nos anos 1960, agora o clube de futebol local atinge o topo do mundo, depois de derrotar o Flamengo por 1 a 0 na final do mundial de clubes da FIFA. Mas, se os Beatles enviaram uma mensagem para além da música, o Liverpool e seu esquadrão também vão bem além do futebol.
Primeiro, pelo técnico do Liverpool, o alemão Jürgen Klopp, que foi enfático em uma declaração que entrará para a história, e não apenas do futebol. Disse Klopp: “Se há algo que jamais farei em toda minha vida é votar na direita.”
Mas além do técnico, o diretor executivo do agora campeão mundial, Peter Moore, em uma recente entrevista já havia afirmado que “o sucesso do Liverpool se baseia no socialismo.” Em outra entrevista, ao El País, publicada em outubro desse ano, Peter Moore revelou diversas particularidades sobre o clube inglês que tem o socialismo como base. Na entrevista, ao referir-se ao técnico socialista alemão da equipe, Peter Moore destacou que Klopp “entende perfeitamente os elementos socialistas que permeiam o clube e a cidade.”
Essas particularidades do Liverpool, talvez desconhecidas pela maioria dos amantes do futebol, tornam-se emblemáticas em uma época que a mercantilização do futebol parece ter se tornado um fato consumado. Tudo passa pelo tal “investimento” e, se no Brasil, o Flamengo fez um mega-investimento, o Liverpool, com maior capacidade financeira, investiu ainda mais. Porém, é alentador ouvir do diretor executivo do clube que acaba de tornar-se campeão mundial que, além do dinheiro, o socialismo e a solidariedade são pilares para um clube vitorioso. Mas a coisa não fica por aí. O Liverpool já havia recusado ficar hospedado em um hotel no Catar, que havia sido oferecido pela FIFA, por um nobre motivo: o hotel violava direitos trabalhistas. E mais: o Liverpool também já havia exigido respeito aos torcedores da comunidade LGBT durante o mundial de clubes. Diante de tudo isso, a vitória de hoje do Liverpool está ecoando uma mensagem que transcende o futebol. Assim como a dos Beatles transcendia a música.
Como existem muitos torcedores flamenguistas de esquerda (vários deles meus amigos), essas particularidades do Liverpool como instituição certamente poderão servir como consolo pela derrota. Já em relação aos flamenguistas bolsonaristas… Bem, em relação a esses, certamente terão calafrios porque o técnico do Liverpool é alemão, socialista e barbudo (eles verão o fantasma de Marx!). Então, a esses eu aconselho que deleitem-se com a imagem do Bolsonaro, que hoje deu uma entrevista coletiva fantasiado de flamenguista.