A “Resposta Histórica”, assinada em 1924 pelo então presidente do Club de Regatas Vasco da Gama, José Augusto Prestes é, incontestavelmente, um dos documentos mais importantes da história da inclusão social no Brasil e, especialmente, da luta contra o racismo. Esse documento é por nós considerado como o mais importante troféu do Vasco e que deve orgulhar toda a torcida vascaína. Nele, o Vasco diz um rotundo “não” aos seus co-irmãos racistas da zona sul, que condicionaram o ingresso do Vasco à recém-criada Liga à exclusão de 12 atletas (todos negros) do seu elenco. O “não” ao racismo dos elitistas da zonal sul foi a marca permanente da história vascaína. Fundado por trabalhadores portugueses, o clube foi protagonista em episódios que o colocam, historicamente, em “um outro patamar”, que talvez o craque flamenguista Bruno Henrique desconheça. Não foi só na luta pela inclusão dos negros que o Vasco se diferenciou. Foi em seu estádio, construído em 1927 sem qualquer subvenção oficial, que Getúlio Vargas assinou a CLT em 1943. Foi em seu estádio que, em 1945, com o fim da Praça Onze e sem as escolas de samba terem onde desfilar, que realizou-se o desfile daquele ano, vencido pela Portela, mas que foi uma vitória do povo. Foi também de São Januário que saíram dois aviões cedidos pelo clube à FAB para combater o nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial. Isso é ser popular. O resto a gente compra. Porém, a história não se vende. Não se negocia. Não se prostitui.
Hoje, chega até nós a notícia de que a Havan, rede de lojas do empresário bolsonarista Luciano Hang, vulgarmente conhecido como “Véio da Havan“, está negociando um patrocínio com o clube de São Januário. O dono da Havan, Luciano Hang, não é apenas um capitaliata. Aliás, nada contra empresas privadas patrocinarem clubes de futebol, fazererem parcerias, exibirem suas marcas em camisas conhecidas pelo mundo afora. No entanto, o senhor Luciano Hang não é apenas um capitalista. Ele apóia declaradamente um governo de extrema-direita, fascista, que é a antítese da história das lutas sociais que marcaram a trajetória histórica do Vasco. Ele apóia um governo que ataca negros, trabalhadores, índios e mulheres. Enfim, ele apóia um governo que é contra tudo aquilo que o Vasco lutou em seus 121 anos de história. Nunca é demais lembrar que o senhor Luciano Hang chantageou, no ano passado, os funcionários de sua empresa, intimidando-os e fazendo ameaças para que eles votassem no candidato fascista Jair Bolsonaro.
Luciano Hang e sua empresa, enfim, representam tudo aquilo que o Vasco sempre combateu em sua história. E o Vasco é infinitamente maior do que a a Havan e o seu “Véio”. Por ser gigantesco, o Vasco tem condições de fechar parceria com outras empresas, sem macular sua inigualável história. O Vasco, como instituição que cultua historicamente valores sacrossantos, que abriu suas portas para os negros, sambistas, trabalhadores e tornou-se verdadeiramente popular, não pode fazer parceria com uma empresa que nega tudo isso. Sob pena de macular sua inigualável história de inclusão social e luta em defesa das camadas populares. Havan não!