Que não se engane O Globo e quaisquer outros veículos do conglomerado de comunicações da família Marinho. O que poderia estar por trás do veto de Marcelo Crivella aos jornalistas do Globo de participar de uma entrevista coletiva sobre o réveillon? O réveillon que, sem dúvida, depois do carnaval, é a festa mais importante do calendário turístico carioca, certamente é um tema que atrairia muitos jornalistas ao Hotel Fairmont, em Copacabana, onde ontem ocorreu a entrevista, especialmente pela proximidade do evento. Soube-se que Crivella quer inovar este ano e incluir na programação musical do réveillon canções gospel. Então, o jornal da família Marinho queria participar da entrevista, mas foi barrado pelo prefeito-pastor.
Não resta dúvida de que essa atitude de Crivella não deixa de ser um aceno a Bolsonaro. 2020 está logo ali e Crivella, apesar do desastre de seu governo ultra-conservador e fundamentalista, vai concorrer à reeleição e o pastor da Universal está de olho no capital político bolsonarista dentro de um Rio de Janeiro que, outrora progressista, tomou um viés conservador e neofascista. Evidentemente Crivella quer tirar proveito da briga entre Bolsonaro e o governador Witzel, em quem o eleitorado bolsonarista votou maciçamente em 2018, eleitorado esse que, no momento, está sem candidato para prefeito em 2020. Crivella, então, quer herdar esse eleitorado, mas depende evidentemente do aceno de Bolsonaro.
Assim, atacar as Organizações Globo, não deixa de ser um agrado a Bolsonaro e, quem sabe, um sinal enviado ao capitão fascista de que o pastor poderá sim ter o seu apoio em 2020 para a reeleição. Até porque o “partido trezoitão” de Bolsonaro, muito provavelmente não terá tempo hábil para cumprir todas as formalidades legais e habilitar-se a concorrer às eleições municipais em 2020. E Crivella não é nada bobo. Ele sabe disso. Assim, fora do PSL e sem poder lançar candidatura pelo seu partido, certamente Bolsonaro irá apoiar candidaturas ultra-conservadoras de direita. E se esses candidatos atacarem seus inimigos, melhor ainda. E se for O Globo, muito melhor.
Note-se que Crivella nunca havia se negado a dar entrevistas ao Globo, mesmo sendo alvo das críticas do jornal há muito tempo. Agora, o prefeito-pastor já anuncia até um boicote ao jornal da família Marinho. Claro que essa atitude de Crivella agradará, e muito, a Bolsonaro. Tudo não deixa de ser um aceno ao Bolsonaro, para herdar em 2020 os votos que certamente seriam de um candidato do PSL ou apoiado por Witzel. Em nota oficial, a Prefeitura do Rio chegou a dizer que “O Globo não é um jornal, mas sim um panfleto político, sempre interessado em trocar notícia por verba de publicidade.”
Resta saber qual será a próxima retaliação de Crivella contra o jornal dos Marinhos. Ficamos no aguardo. Enquanto isso, nunca é demais lembrar que o Globo sempre atuou sim de forma panfletária, especialmente contra as esquerdas. Mas nunca havia sofrido golpes, ataques e censuras que sofre dos governos direitistas que ajudou a eleger quando demonizou a esquerda. Agora, parece que chegou a hora de colher os frutos podres que eles ajudaram a gestar.