“Não ousem me comparar ao presidente que eles escolheram. Jamais ameacei e jamais ameaçaria cassar arbitrariamente uma concessão de TV, mesmo sendo atacado sem direito de resposta e censurado como sou pelo jornalismo da Globo.” (Ex-Presidente Lula, no Congresso do PT, em 22 de novembro de 2019).
Não coloquem tudo no mesmo saco. Perguntem a qualquer jornalista, seja da Globo, da Folha, do Estadão, da Veja, em que governo eles sentiram-se mais ameaçados e desrespeitados em suas atividades profissionais: se nos quase 14 anos de governos petistas ou em menos de um ano de governo Bolsonaro. A ideia de falar em “extremos” e afirmar que tanto Lula como Bolsonaro são igualmente uma ameaça à liberdade de imprensa é mais um equívoco que boa parte da grande mídia está cometendo.
Lula jamais aventou a hipótese de cassar a concessão da Globo, ao contrário de Bolsonaro, que fez claramente essa ameaça. E, talvez, um dos grandes problemas da Globo em relação a Lula seja exatamente esse: é que Lula sempre defendeu que, para democratizar a comunicação, ao invés de fechar, deve-se é abrir muitas emissoras. E é justamente aí que está o medo da Globo: perder seu monopólio, que no atual contexto é disputado com a emissora oficial de Edir Macedo, o dono da Igreja Universal e aliado de Bolsonaro. Abrir novas emissoras não pode ser visto como uma ameaça às existentes e sim como uma forma de democratizar e pluralizar as comunicações. Aliás, a “lógica” desses caras é conhecida: eles são a favor da livre concorrência, desde que não haja concorrência aos seus negócios…
Claro que Lula tem que criticar a Globo. Até deve. E muito. Afinal, não apenas Lula, como todo o período de governo petista, foi trucidado pela organização de comunicação da família Marinho. Isso é liberdade de imprensa. Lula, em alguns momentos, teve que rebater ataques da Globo, que liderava a campanha negativa contra o PT, visando sempre beneficiar os tucanos. A Globo já havia apoiado FHC. Depois, apoiou Alckmin, Serra e Aécio. Mas a Globo nunca teve uma atuação equânime em seu jornalismo dito “independente”: ignorava a “privataria” tucana, tocava de modo suave no mensalão tucano ao qual, eufemisticamente, dava a denominação de “mensalão mineiro”. E seus articulistas, tanto na mídia impressa como televisiva, não cansavam de atacar desproporcionalmente tanto Lula e o PT que cometeram sim , erros, mas, e os outros? Onde estava a equidistância de um jornalismo que se apresentava como independente?
Porém, em momento algum, apesar da parcialidade escancarada, nem Lula nem Dilma retaliaram a Globo ou qualquer veículo que lhes atacavam. Apesar de muitos desses ataques serem prévia e cinematograficamente, no melhor estilo hollywoodiano, arquitetados. Como uma absurda condução coercitiva em que Lula sequer foi intimado a depor. Como a chegada de equipes da Globo aos locais de operação antes mesmo da Polícia Federal e do criminoso vazamento da conversa de Dilma com Lula, em consórcio com Sérgio Moro, que deu à Globo o privilégio de divulgar o “furo” que mudaria os destinos do Brasil para a desgraça atual. Claro que diante de todo esse ativismo político, tanto Lula como o PT teriam que se pronunciar e até criticar atuações nitidamente políticas travestidas de “jornalismo independente”. Porém, querer comparar a era do PT com a era Bolsonaro em termos de perseguição à imprensa, é jogar sujo outra vez. Nunca jornalistas e veículos de imprensa foram tão perseguidos e ameaçados como no atual governo. Os ataques de Bolsonaro à imprensa tiveram início ainda na transição e se materializam com suspensão de assinaturas, cancelamento de veiculação de propagandas oficiais, destrato a jornalistas, ameaças (até de morte) a profissionais de imprensa pelas milícias virtuais a serviço do bolsonarismo e pronunciamentos oficiais, em “lives” do Presidente contra a Globo, que remetem a uma baixaria deplorável. Recentemente Bolsonaro até barrou jornalistas da Globo e da Folha em uma entrevista. Quando Lula fez isso? Claro que a Globo ajudou a plantar o que hoje aí está. Porque a Globo (e eles sabem disso!) foi extremamente desproporcional no tratamento dado aos partidos e aos políticos. O linchamento feito ao PT contribuiu em grande parte para a ascensão fascista, da qual a própria Globo hoje colhe e sofre com o frutos podres que ajudou a parir. Por isso, sempre repetimos: eles plantaram um “picolé de chuchu” e colheram um Bozo.
Portanto, que a Globo e outros veículos não coloquem no mesmo saco Lula e Bolsonaro em relação ao trato com a imprensa. Vocês poderão novamente cometer erros fatais. Como já cometeram ao apoiar o golpe de 1964 e a ditadura militar. Como já cometeram ao apoiar Collor em 1989. Como já cometeram em apoiar o bandido Aécio em 2014. Isso sem falar no “escândalo da Parabólica” em 1994 (perguntem ao jornalista Carlos Monforte!) e a tentativa de mudar fraudulentamente o resultado da eleição para governador do Rio de Janeiro em 1982, com o “escândalo da Proconsult”, para dar a vitória ao “gato angorá”. Portanto, não misturem no mesmo saco Lula com um fascista paranoico!