Parece que esqueceram um pouco a Venezuela. E o caudilho Maduro deve estar rindo de orelha a orelha com os acontecimentos no Chile, Argentina, Peru e Equador. E o Guaidó? Escafedeu-se na onda de crises neoliberais que tomam conta da América do Sul. A Argentina está aos cacos com o governo neoliberal de Macri e Bolsonaro, antevendo a derrota eleitoral de seu “hermano muy amigo”, já articula a expulsão da Argentina do Mercosul. Isso porque Bolsonaro sempre falou que suas ações no governo não teriam “viés ideológico”. Até saques já aconteceram em supermercados na Argentina. O Chile, que realizou tudo o que Paulo Guedes vem fazendo no Brasil, como o desmonte da previdência, levou o povo a pagar uma conta que não é dele. Lá a tal capitalização só foi boa para os banqueiros e a concentração de renda tornou-se absurda. A maior manifestação popular da história do Chile reuniu cerca de 2 milhões de pessoas. O neoliberalismo de Piñera desmontou o Estado e acabou com os serviços públicos. O liberalismo extremo, que suprime o Estado e preserva a “liberdade individual” está chegando “às vias de fato” e cada um que brigue por si. Sem previdência, sem serviços públicos e sem Estado, o povo chileno não tinha mais nada a perder. E acabou perdendo até o medo, como bem expressavam os manifestantes. Segundo dados atualizados, já são 19 os mortos nas manifestações no Chile.
A Argentina enfrenta recessão, inflação e as imposições do FMI, que tutela a economia do país, levaram a medidas que atacaram os serviços públicos. A questão é simples. Não adianta “acabar com o Estado”, “privatizar tudo”, se a renda está absurdamente concentrada. Porque aqueles que já sofrem por não terem os serviços com a deliberada desobrigação do Estado, imposta pela cartilha da Escola de Chicago que Paulo Guedes frequentou, não terão como pagar pelos serviços privados. Estes terão muitos lucros, atendendo apenas aos que podem pagar.
O professor de Economia da Universidade do Chile, Manoel Agosín, menciona que “a precariedade de todos os direitos sociais foi o estopim para as manifestações” em seu país, o que corrobora a tese de que o neoliberalismo representa o abandono das obrigações do Estado para com sua população. Enquanto isso, segundo dados da ONU, os índices de concentração de renda são estratosféricos e 0,1% da população mais rica do Chile detém 19,5% da renda. Isso mesmo: um décimo da população é dona de quase 20% da renda do país. Não precisa ser comunista, socialista ou social-democrata para constatar que isso é uma crueldade que, em algum momento, irá estourar em revolta. E o povo chileno nem pegou em armas.
O filósofo, humanista e santo Thomas Morus dizia, em sua célebre “Utopia”, que em sua ilha imaginária, quem visitava uma cidade não precisava visitar as outras, porque todas eram praticamente iguais. O mesmo pode ser dito sobre a crise neoliberal que, em “efeito dominó”, varre os chamados castelos de areia idealizados pela escola de Paulo Guedes. Quem vê o que ocorre hoje no Chile, em linhas gerais explica o que acontece na Argentina, Equador, Peru… Quanto ao Brasil, Bolsonaro sabe que nosso país pode ser (e provavelmente será) uma das próximas pedras. Ao invés de mirar-se nos fracassos de seus aliados e procurar rever alguns conceitos, ele diz que as Forças Armadas já estão de prontidão para aplicar o artigo 142 da Constituição em caso de manifestações do povo brasileiro. Isso, no mesmo dia em que Paulo Guedes anunciou que criará um “shutdown”, alegando emergência fiscal, e permitindo que estados e municípios possam demitir seus funcionários e até cortar os salários dos servidores. Mas Bolsonaro prefere mandar o Exército “se preparar para o artigo 142”. Ele sabe que a pedra vai cair!