Para quem falava na campanha que não tomaria ações com “viés ideológico” em seu governo, a coisa está indo muito além. O governo Bolsonaro, depois de criar inimigos imaginários, já começa a ver fantasmas. E agora (mais uma vez), o protagonismo bizarro veio do ministro olavista das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. E quem é o “inimigo”, ou melhor, o “fantasma” da vez? Ninguém menos que Francisco Clementino Santiago Dantas.
Santiago Dantas foi deputado federal, professor, jurista, escritor e teve grande atividade no fervilhante caldeirão político brasileiro entre 1945 e 1964, ano de seu falecimento. Mas Santiago Dantas chegou a ser nomeado ministro das Relações Exteriores de Jânio Quadros e ficou muito conhecido por ser o defensor de uma política externa independente, ou seja, não alinhada. Então, opôs-se às sanções que foram impostas a Cuba. E também foi um dos grandes articuladores do reatamento das relações diplomáticas com a antiga União Soviética, que haviam sido rompidas em 1947 com o alinhamento do governo Eurico Dutra com os EUA. Pronto. Foi o suficiente para que Santiago Dantas entrasse no “índex” olavista-bolsonarista. A pena? S O seu busto, que ficava no subsolo do Itamaraty, em uma sala que leva o seu nome, foi sumariamente retirado. É interessante notar que Santiago Dantas nada teve de “comunista” em sua trajetória política. Ao contrário, chegou até a ser um militante do Integralismo, que era uma organização política de inspiração fascista. Depois, foi para o PTB. Participou do governo Jango. Talvez aí tenha caído em “desgraça” com os fundamentalistas-olavistas.
A política externa que Santiago Dantas defendia simplesmente visava os interesses nacionais e queria acabar com alinhamentos que pudessem limitar as relações do Brasil. Mas ele já foi sentenciado. Crime? Era um “globalista em tempos de Guerra Fria.” A sentença? A retirada do seu fantasma, em forma concreta, da entrada da sala no Itamaraty. Por enquanto, sobrou “apenas” para o busto. Mas, ao que sabemos, “Santiago Dantas” continua sendo o nome da sala. Por enquanto. Porque muito provavelmente o fantasma de Santiago Dantas poderá ser queimado em um boneco que o represente. Ou, quem sabe, sofrer um anátema da inquisição olavista-bolsonarista?