BOZO NA ONU: VEXAME E “I LOVE YOU”

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Parecia que tínhamos entrado em um túnel do tempo e desembarcado em 1945, ano de fundação da ONU e do início da Guerra Fria. Em um discurso anacrônico, agressivo, que parecia discurso de campanha eleitoral e impregnado de ideologia (embora ele sempre diga que nada poderá ter viés ideológico), Bolsonaro não apresentou nada de novo nem para o Mundo e nem para o Brasil. Aliás, ele não falou para a ONU, para o Mundo e nem para o Brasil. Falou apenas para os seus ensandecidos seguidores, que ontem quase estouram a bolha em que se encontram, exultantes com o discurso de seu “Führer”.

Limitando-se a atacar seus adversários, a imprensa, o socialismo, o globalismo e países antigos desafetos, como Cuba e Venezuela, além de recentes desafetos, como França e Alemanha, Bolsonaro repetiu clichês populistas da extrema-direita e acabou por isolar o Brasil no panorama internacional. Sobrou até para o cacique Raoni, um ancião e líder indígena internacionalmente conhecido. Em compensação, não faltaram elogios para o seu “troféu”, a “Arariboia de saia”, que ele levou para a Assembleia. De quebra, bajulou Donald Trump. E ainda fez questão, após o discurso, de corroborar sua submissão, ao ter que esperar mais de uma hora para dar um mero aperto de mãos protocolar, de apenas dez segundos, em seu “chefe”. Mas o ancilar deve ter saído exultante, pois segundo diplomatas que estavam na sala onde Trump aguardava para fazer seu discurso (ele seria o segundo), Bolsonaro ainda teve tempo de dizer a Trump: “I love you.” E Trump respondeu: “Que bom te ver de novo.” E terminou o diálogo. Que grande reunião bilateral!

Mas, vamos ao teor do que foi vomitado pelo Bozo: criticou a perseguição religiosa aos evangélicos (que ele diz existir), mas nenhuma menção fez à real perseguição às religiões de matrizes africanas, frequantes no Brasil, onde terreiros vem sendo algo de depredações e violência e até babalorixás assassinados. Criticou o programa “Mais Médicos”, chamando os profissionais cubanos de “escravos” que devolviam parte de seus salários ao governo de Cuba, algo parecido com a devolução compulsória que os funcionários do gabinete de seu filho Flávio na ALERJ faziam ao “laranja” de sua família, o desaparecido Queiroz. Chamou o Foro de São Paulo, que é uma associação de partidos de esquerda e centro-esquerda da América Latina, todos legalizados, de “organização criminosa”, mas não atribuiu o mesmo adjetivo às milícias que ele e sua família apoiam e que aterrorizam o Rio de Janeiro.

O discurso foi impregnado de olavismo “in natura”, de ofensas e agressões gratuitas e especialistas em relações internacionais afirmam que o Brasil rompeu com uma tradição diplomática de não-alinhamento e isolou-se ainda mais. De quebra, Bolsonaro elogiou o enrolado e suspeito ex-juiz Sérgio Moro. Como Bolsonaro fez um comício para os seus seguidores e os “lavajateiros moristas” já estão debandando, ele quis afagar os “moristas”, tentando aumentar a sua popularidade, que é menor do que a do ex-juiz suspeito.

Quanto às falácias sobre a Amazônia e o climatismo, que ele diz existirem, bem que ele poderia mencionar as “verdades” de seu chanceler olavista, Ernesto Araújo, que diz ser o aquecimento global uma “conspiração comunista”, que o efeito estufa é “decorrente do aquecimento do asfalto” e que, conforme também declarou seu chanceler, “não existe aquecimento global porque ele foi a Roma e lá estava frio.”

Parece que a grande sensação foi mesmo o “I love you” para Trump. E deve ser um “love” muito grande, porque esperar mais de uma hora para falar isso não é para qualquer “love”. E, incrível: Trump foi bem “diplomático” em sua resposta após Bolsonaro declarar-se a ele. Esse milagre, pelo menos, o Bozo conseguiu.

 

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