A atuação do ex-juiz e atual ministro da Justiça do governo de extrema-direita de Bolsonaro deverá ser julgada pela 2ª Turma do STF até o mês de novembro. E já há quem aposte que as evidências divulgadas pelo The Intercept e outros veículos farão mesmo com que Sérgio Moro seja declarado suspeito em sua atuação como juiz, em razão das evidentes irregularidades e da parcialidade divulgadas no conteúdo vazado. Como dizia o próprio Sérgio Moro em tempos pretéritos, quando ele próprio vazou conteúdo da então Presidente da República: “o importante é o conteúdo e não a maneira como foi obtido.” Aplicando sua máxima, Moro fez a festa midiática da Rede Globo, impediu a posse de Lula como ministro e ainda ajudou a cavar o buraco golpista. E, como se não bastasse, ainda elegeu Bolsonaro, de quem hoje ele é ministro. Será que ele imaginava que um dia a sua hora iria chegar?
Nem cabem mais comentários sobre a parcialidade, ativismo político, fraudes processuais, conluio com procuradores e outras práticas criminosas de Moro e seus comparsas. Os diálogos falam por eles mesmos e, evidentemente, um processo em que o juiz atuou clara e comprovadamente de forma parcial e que culminou em uma sentença condenatória que mudou não apenas a história de uma pessoa, mas do país, não pode continuar tendo os seus efeitos e causando os seus estragos para a Justiça e, principalmente, para a democracia. Pior: alguns estragos são irreversíveis, como a eleição de 2018, em que o resultado foi diretamente uma consequência de uma sentença resultante de parcialidade e fraude, e que não poderá ser revogada. Quanto a isso, Moro não será julgado por um tribunal de magistrados e sim pelo tribunal da história.
O jornalista Leandro Colon, da Folha de São Paulo, e que atua na sucursal de Brasília, publicou ontem um artigo em que diz que é muito provável que Sérgio Moro seja derrotado no julgamento que decidirá sobre sua suspeição. O jornalista cita como base para sua afirmação uma entrevista do ministro do STF Gilmar Mendes, na qual o magistrado afirmou que “a popularidade de Moro, bem acima da de Bolsonaro, segundo o Datafolha, não deve influenciar no julgamento da Segunda Turma sobre a suspeição do ex-juiz no caso do tríplex de Guarujá.” Gilmar Mendes ainda acrescentou na entrevista que se um tribunal considerar o fator da popularidade do julgado em suas decisões, então “ele deve fechar”. Não há dúvidas de que as afirmações de Gilmar Mendes mostram uma tendência para a derrota de Moro. O próprio Gilmar Mendes já havia repudiado a atuação suspeita de Sérgio Moro. Parece que a suspeição do marreco de Maringá será mesmo declarada pela 2ª Turma.
Mas uma eventual e provável declaração de suspeição de Moro também terá outros significados relevantes. Será um teste para o próprio STF e principalmente para a democracia. O STF, que vem sendo atacado por bolsonaristas, que pedem até seu fechamento, terá a oportunidade de mostrar independência, mesmo com seu atual Presidente tendo capitulado ao governo fascista. Mas fiquemos atentos porque, certamente, algum general poderá, às vésperas do julgamento, fazer ameaças veladas ou explícitas, dar socos na mesa e dizer que as Forças Armadas “estão atentas”. Então, será a própria democracia que estará sob julgamento. E esta não pode capitular.